Thursday, September 25, 2008

Entre a ideologia e a realidade

No Benfica, é chegado o tempo de lidar com um dilema táctico. Por um lado, Quique Flores pretende fazer desenvolver e rotinar um sistema que comporta 4 médios (que, na prática, são 2) e dois avançados. Para isso, opta por jogar com dois alas bem abertos, na maior parte dos jogos, e dois jogadores no miolo que, simultaneamente, defendem e atacam e são responsáveis por organizar e estabilizar o jogo encarnado. Por outro, a questão que se levanta - e que a realidade tem confirmado - é a extrema fragilidade de que o jogo do Benfica parece ficar refém. Os dois homens do meio (Yebda e Carlos Martins) são forçados a encarar a equipa adversária e, especificamente, o seu meio-campo, quase sempre em inferioridade numérica, o que os desgasta e faz com que a organização da equipa se desintegre por volta dos 60, 70 minutos de jogo. Basta lembrarmo-nos dos 4 jogos oficiais do Benfica para confirmarmos esta tendência de desgaste físico destes dois homens e, por consequência, de toda a disponibilidade colectiva. Quique, em recente entrevista a "A BOLA", vem reforçar a ideia de que é este o seu modelo de jogo mas, curiosamente, após a mesma entrevista, fez entrar em Paços de Ferreira um modelo relativamente diferente, "puxando" Amorim para a direita, como interior no apoio ao trabalho defensivo dos dois jogadores do meio-campo (ao contrário do que gosta de fazer, ou seja usar um ala vertical e menos interventivo nos movimentos interiores da equipa), deixando na esquerda, o único verdadeiro extremo, Reyes. A equipa ganhou solidez defensiva, soube subir no terreno com maior certeza e as trocas de bola acabaram por ter maior segurança do que, por exemplo, em Nápoles. No entanto, o espanhol pareceu mais uma vez algo inadaptado aos seus jogadores e algo desagradado com este modelo, uma vez que na segunda parte, quando o Benfica deveria estar a gerir tranquilamente o jogo e não, como se verificou, extremamente pressionado, decidiu retirar os dois melhores jogadores (Nuno Gomes e Amorim), entrando para os seus lugares Aimar (que vinha de lesão e não soube entrar bem no jogo, apesar de pormenores que sempre tem que revelam a sua grande qualidade) e Balboa, um jogador que parece não vir acrescentar nada de novo à equipa, nem como ala ofensivo, nem como apoio aos processos defensivos. A equipa recuou, partiu-se, voltou a ter apenas dois homens no meio (já muito desgastados) e o Paços acabou o jogo com grandes possibilidades de empatar um jogo que, ao intervalo, parecia sentenciado.A questão que deve ser colocada a Quique Flores é esta: a época que está a decorrer serve, essencialmente, para desenvolver e melhorar o seu sistema preferido (442), sendo que os resultados serão os que forem possíveis conseguir, apostando claramente na próxima época para ter sucesso, deixando que nesta a equipa seja rotinada da melhor forma OU terá - como a realidade, insistentemente, grita! - de adaptar as suas ideias aos jogadores que tem e à necessidade que o próprio jogo exige de apoiar o seu meio-campo de outra forma, se não quer usar uma táctica suicida em vários jogos? É que se a equipa do Benfica, no plano ofensivo, parece estar a trabalhar cada vez melhor, em termos defensivos, às vezes dá ideia de defender como se defende nos regionais. Está na altura de Quique Flores submeter a sua ideologia à realidade. Se o fizer, parece-me que pode formar uma grande equipa, com grande futebol e alternativas mais que viáveis para uma época de sucesso ou, pelo menos, para uma que prepare convenientemente o futuro do clube. Definitivamente. Se o não fizer, o público mais imediatista do Benfica pressioná-lo-á até se tornar insustentável a sua permanência à frente do grupo de trabalho. E isso seria uma consequência trágica para o futuro a curto e médio prazo dos encarnados.

Friday, September 19, 2008

As memórias escorrem, como sangue viscoso, por nós abaixo. Primeiro, quase sólidas, fogem-nos devagar, como se quisessem - e pudessem - aparecer-nos ao presente, por uma estranha e mágica e surreal realidade; depois, nas segundas instâncias do pensamento, descem-nos até aos pés como lava irequieta, embora lenta, que vai perdendo solidez montanha abaixo. As memórias, como lava ou como sangue ou como água, escorrem-nos e deixam pedaços de si nas zonas baixas das marés, nos fundos de poços, nas estranhas planícies das noites em branco. Acontece pararmos. Olharmos um resquício de memória junto a uma pedra, num dos vales por onde correu e desaguou uma delas. Ocorre pegarmos-lhe, como coisa inusitada, curiosa e fria. Um meteorito de rememorações passadas, um corpo em decomposição? uma única e possível sobrevivência. Pode ser até que, tal como uma ou mil crianças fazem neste momento, peguemos numa dessas pedras, numa dessas porções deixadas em nós pela correnteza rude do passar das horas e dos dias e dos séculos, e a atiremos à água, na vil esperança de a afundarmos no fundo do fundo do fundo de um oceano. Pode até ser que ela, esguia e persistente, antes de descer aos baixios do mar, saiba repetir-se, em saltos cada vez menos distantes, soltando círculos e círculos que ninguém sabe quando - se - têm um fim.

Monday, September 01, 2008

O diabo anda à solta... e é grunho!

Por mim era cancelar imediatamente o cartão de sócio do animal e impedir a sua entrada no Estádio da Luz... para sempre. Se mesmo numa situação de roubo descarado, nunca entenderia que um adepto entrasse no relvado e agredisse (ou empurrasse, o que queiram) um fiscal de linha, muito menos entendo quando a acção é totalmente despropositada, visto que o referido fiscal de linha não cometeu roubo algum. Animais desta estirpe não devem nunca ser identificados como benfiquistas. Ponto final.
Já agora, uma chamada de atenção para aquela puta que se diz chefe da Polícia: muito ela fala, muito ela discursa e sorri mas, mais uma vez, a desorganização e falta de segurança foram evidentes. A Polícia não tem reuniões com os stewards? Não lhes faz ver o que devem fazer? Como é que um adepto sai tranquilamente da bancada, passeia-se por largos metros do relvado, empurra um fiscal de linha e volta, todo lampeiro, ao mesmo sítio, sem quem ninguém o detenha? E, pior, depois começam a descascar em gajos que não têm nada a ver com o sucedido. Ridículo.