Wednesday, October 22, 2008

Há onze anos apostaria todo o dinheiro em Deco?

«Podia ter chegado num barco atolado de imigrantes ilegais, famintos e desconfiados, que também ninguém teria dado por si. O rótulo dispensava a presença de holofotes, de jornalistas empilhados e comprimidos como sucata em pirâmide, com câmaras no topo. Era ele e outro, também brasileiro, com nomes bissílabos. Vinham para a Luz, mas nunca lá chegariam. O primeiro contacto com um novo futebol, mais agressivo e rápido, e sobretudo muito mais exigente, aconteceria poucos quilómetros a norte, no «satélite».
Mais do que a desconfiança que a sonoridade dos nomes Deco e Caju criava na cabeça das gentes, o próprio clube de onde vinham não era de fiar. Um Corinthians sim, mas da paradisíaca Maceió, em Alagoas, fundado apenas seis anos antes, que não competia, apenas geria os talentos que aí apareciam antes de os redireccionar. Ninguém espera que esse miúdo franzino de 20 anos com aspirações a ser o número 10 do Benfica, e que pisa pela primeira vez a Portela, seja um dia grande figura do campeonato, da Selecção e do futebol mundial. Quem seria capaz de apostar todo o dinheiro em alguém assim?
Primeiro Alverca, com Maniche, Hugo Leal, Diogo, Ramires e Caju. Depois, o Salgueiros, apenas como ponte para algo de outra dimensão. Finalmente, o F.C. Porto - onde Caju o vai reencontrar por um ano, antes de voltar a Alverca -, os títulos, a explosão, a dupla nacionalidade e a chamada de Scolari. Tudo em Deco parecia finalmente fazer sentido, com a bola sempre colada ao pé direito, fazendo vírgulas entre frases curtas, saindo a seguir curvada para dentro, com força e jeito, envolvida num passe ou num remate fatal. Depois, havia mais qualquer coisa. Não se contentava em ser estrela, arregaçava as mangas e também ele era operário.
A verdade é que pouco tempo depois de ter chegado, ainda na Honra, já havia quem sussurrasse O melhor é o Deco! Sabia-se que havia futebol ali, que podia crescer até ser um bom jogador do primeiro escalão. Mais do que isso era um tiro no escuro, um prognóstico atirado para o ar sem algo que o sustentasse. No entanto, essa capacidade de ambientar-se rápido ao novo mundo, como se fosse a sua casa desde sempre, de ir perdendo o sotaque ganho em São Bernardo do Campo, nos arredores da gigante São Paulo, e de ser capaz de fazer parte de um futebol diferente daquele que aprendeu a ver perto de si deram-lhe a dimensão que poucos atingiram. E, afinal, houve desde o início tanto contra si...
Aos 31 anos, e depois do fim precipitado num Barcelona a querer forçar novo ciclo, tem ainda o Chelsea e a Selecção para uma boa recta final. Requintado, parece determinado a ficar por mais algum tempo na memória de todos os que foram adeptos incondicionais desse futebol em que a inteligência e o talento andaram sempre interligados. Por ser como é, por poder ser dez e oito, ou médio direito se necessário, na mesma equipa e com o mesmo valor, o jogo promete ainda ser generoso com ele por mais tempo.
A sul, em Alvalade, já há muito lhe arranjaram um sucessor: João Moutinho. Fisiologicamente parecidos, com idêntica capacidade de entrega no ataque e na defesa, e muito inteligentes em campo. No entanto, com diferentes capacidades de improviso e, infelizmente, de talento. O capitão dos leões terá pensado a certa altura que é Portugal que lhe limita a evolução. Que em Inglaterra ou em qualquer outra liga de nível superior ganhará outra dimensão. A verdade é que lhe falta a diferença para Deco: ser decisivo. O 28 de Alvalade não chegou ao fim da linha, está longe de o ter feito aos 22 anos, mas será que vai crescer muito mais? Ou será sempre este grande futebolista, jogando sempre no limite máximo que os deuses lhe concederam. Afinal, eles não ficaram conhecidos por dividir o talento em partes iguais.»

Luís Mateus, MaisFutebol

Tuesday, October 14, 2008

Hoje, fiz-me sócio do Benfica. Ontem (vi-te no estádio da Luz), é o lugar em que discuto, mais dois amigos, essa coisa de ser benfiquista. E pronto. É isso.

Monday, October 13, 2008

Um caso de bipolaridade

Eu sempre gostei do Quaresma e acho-o um jogador fora de série - em termos de criatividade, acima do Ronaldo, claramente. Não deixo é de criticar aquilo que se vê. E aquilo que se viu, tirando um ou outro lance em que decidiu bem, foi uma atitude estúpida que podia ter valido muito caro à Selecção, se ficássemos em inferioridade numérica e uma péssima decisão nos últimos minutos de jogo, quando decidiu rematar com outras soluções bem mais inteligentes. Há quem defenda a tese imbecil de que "um avançado remata à baliza", como se a solução de passar a bola fosse estúpida só porque se está com a mira apontada. Acho essa teoria das coisas mais aberrantes que já li, vi e ouvi sobre futebol. E continuo a achar, mesmo em peladinhas (nas quais me criticam "Eh pá Ricardo, tu não rematas à baliza, passas sempre!"), que se eu estiver de frente para o guarda-redes, isolado, e tiver um gajo da minha equipa ao lado, o melhor é simular que remato, fazer cair o guarda-redes e meter para o meu companheiro, mas isto sou eu. Aliás, há cerca de uma semana saiu no "A BOLA" um texto do LFL sobre essa temática, referindo-se, na altura, ao Marcelinho da Naval e a uma situação idêntica. Dizia ele, Freitas Lobo, que por vezes ficar mais perto do golo é não rematar. Concordo totalmente. E isso o Quaresma algumas vezes parece não querer ver.

Quanto a ele ser genial, não tenho dúvidas sobre esse aspecto. Até acho que é uma ofensa alguém dizer que o Quaresma não o é.

Saturday, October 11, 2008

Indignação (à atenção do provedor)

Não me pareceu nada bem que o Visconde da Apúlia tenha recebido o prémio Capitão Moura vestido daquela forma. Digo mais: revelou uma péssima noção de como devem ser recebidos os convidados especiais (ainda por cima quando eles nos vêm dar presuntos, que é uma coisa que não se vê muito por aí). Aquele fatinho ridículo e amarelo do Apúlia entrou em feroz contraste com o fato engomado e limpo, capaz e eficaz, do muito mais visconde excelentíssimo senhor Capitão Moura. E subiu-lhe à cabeça, ao apuliense de gema, toda aquela festa circense e mediática - o homem queria, sem o conseguir, passar por engraçado e tudo, o que me chateou bastante, tendo em conta que o normal e justíssimo sucessor do Capitão Moura deveria ser, como é óbvio, o próprio Capitão Moura. Se isto continua assim, escrevo um mail ao Paquete de Oliveira. Este programa é uma afronta aos portugueses limpinhos.

Pergunta-masturbação

Teremos de esperar mais quantos séculos até que alguém se digne a admitir que o João Moutinho, apesar de ser bom, nunca será um grande jogador?

Thursday, October 09, 2008

Bom, bom, mas bom mesmo, está o último post do Bruno Nogueira.

Saturday, October 04, 2008

é como querer nadar sem ter o braço direito

Devo dizer que há já alguns anos que me irrita profundamente aquela ideia parola que os nossos comentadores tendem a vangloriar à punheta que, basicamente, defende que os adeptos ingleses é que são uns gajos que percebem de futebol. E isto porquê? Pois bem, como estes iluminados nos querem fazer crer, parece que os gajos são os melhores do mundo porque cantam mesmo quando a sua equipa está a levar 4 batatas na tromba. Eu, se não fosse parvo, diria que estar a levar 4 secos em casa não é lá grande coisa que me puxe a garganta para delírios vocais. Se eu não fosse completamente burro e mau adepto, diria mesmo que cantar quando a minha equipa está a perder por 4-0 é... estúpido. Mas mais do que a estupidez que se revela nessa espécie de coro da tristeza, é aquela sensação que um adepto burro como eu tem de que os gajos britânicos não estão nada a ser bons adeptos mas a dar uma de civilizados porque em todo o mundo toda a gente fala neles como o exemplo a seguir. E devo dizer, com todo o respeito que gajos bezanos sempre me merecem, que essa atitude é de uma parolada sem par. Eu no ano passado, quando estava na Luz a ver o Benfica enfardar 3 da Académica, estava muito pouco virado para desatar a cantar e a puxar pela equipa. Desconfio até que, se começasse a cantar, alguém ao meu lado puxaria de um cartão de sócio e, como um cartão a passar na ranhura, me rasgaria o cérebro como manteiga quentinha. Viva o direito a estar deprimido.

Friday, October 03, 2008

Urge não chegar aos 80 para não voltar ao 8

Correndo o risco de meter alguma água na fervura, numa altura em que a euforia nos inunda, devo dizer que o principal adversário do Benfica neste momento é o próprio Benfica, a sua grandeza e o estado bipolar com que tendemos todos a ver a realidade do nosso clube. Se a equipa nos faz sonhar? Sem dúvida que faz! Se perspectivamos um futuro MUITO melhor do que aquele que aturamos há 15 anos? Não tenho dúvidas! Mas (e há sempre um mas) talvez seja o momento certo para relembrar o mesmo que se dizia quando os resultados não apareciam: esta equipa e este projecto estão a ser construídos. Tenhamos calma, há ainda muito a fazer. Eu repito que, para este ano, não peço o campeonato, peço, acima de tudo, a clara noção por parte de todos de que no Benfica se trabalha e bem - até agora tenho visto isso. Não peço mundos e fundos porque, em futebol, as grandes equipas não se fazem de um momento para o outro. Tal como esta semana vimos uma equipa personalizada ganhar dois jogos difíceis, certamente aparecerão resultados e exibições menos exuberantes - será nessa altura importante não voltar ao 8, depois deste 80. Relembremos sempre o facto de termos um novo director desportivo, nova equipa técnica e muitos novos jogadores. Basta dizer que ontem a equipa titular tinha 5 novos jogadores mais 2 que entrararam ao longo do jogo. O Benfica parece estar a caminhar finalmente para uma ideia clara, organizada, metódica, inteligente e segura de sucesso, mas é muito cedo para a desmedida euforia. Importa consolidar o jogo da equipa - e nesse aspecto, parece-me que, ofensivamente, o Benfica está mais capaz e mais rotinado do que no sector mais recuado. A defesa ainda não oferece a seguança que qualquer grande equipa do mundo deve oferecer. Os laterais de ontem estão muitos furos abaixo da restante qualidade do plantel, o eixo defensivo continua algo permeável (se Canavarro ou Zalayeta não tivessem tido azar naquele lance da primeira parte, como ficaria o jogo? se Djaló tivesse marcado nos primeiros segundos do jogo de Sábado, o Benfica teria ganho o derby?) e as transições defensivas continuam por consolidar (Amorim, Katsou e Yebda completam-se bem mas parece-me que o grego continua a revelar algumas insuficiências no lugar de "6"). O que eu quero dizer, meus amigos, é que, apesar de toda esta alegria por uma semana de sucesso, sonho, exibições de qualidade e muita emoção e golos, o Benfica está em CONSTRUÇÃO. Se tivermos isto presente, será, primeiro, mais fácil continuar a ganhar e, segundo, quando não ganharmos, saberemos ter a noção de que é o projecto que interessa. Um campeonato é bom, mas só se tiver futuro. Prefiro ganhar 6 ou 7 vezes numa década. Para isso, não me importo de ver, na primeira época, um projecto ser consolidado. Com pés e cabeça.