Monday, June 08, 2009

Coisas

A Dona Ermelinda, do 3º A, não me respondeu ao Bom Dia que lhe lancei, quando nos cruzámos no elevador. Estou triste. A Dona Ermelinda é possível que também esteja. Talvez seja por isso que não me respondeu - é provável que nem tenha ouvido o Bom Dia, perdida entre reflexões profundas sobre as causas da sua tristeza. A Dona Ermelinda provavelmente não se chama Ermelinda e nem sequer deve ser Dona de coisa nenhuma. Mas há que dar nomes às coisas e a coisa da Dona Ermelinda já deve andar há anos sem ver um néctar de pêssego. Ou de frutos silvestres. Se calhar é por isso que a Dona Ermelinda está triste.

Saturday, May 02, 2009

O dia do trabalhador

Qualquer dia, um dia destes, um dia qualquer no próximo século, não tem de ser já, hei-de ser porteiro de uma discoteca concorrida de Lisboa. Não é pelo dinheiro, que até acredito que seja interessante, nem é pela possibilidade de dar dois murros bem dados em gente imbecil, é pela questão do poder. Pura e simplesmente, o poder, sim. Não há gente mais poderosa nos dias que correm, tirando os arrumadores, que os porteiros. É poder por todo o lado e mesmo assim – e era aqui que eu seria vanguardista na arte – são todos macambúzios. Ao menos, se fosse eu o porteiro, ria-me de vez em quando, quem sabe não faria mesmo uma mini-actuação circense enquanto os bêbedos esperavam a sua entrada; cuspia fogo, engalfinhava 3 litros de cerveja em 10 minutos, despia-me, fazia o pino, entregava pizzas, cantava o fado, todo um manancial de possíveis diversões que os porteiros andam a desperdiçar com aquele ar sombrio de quem acabou de cagar as twin towers.
Isto, perguntam os leitores, vem a propósito de quê? Vem a propósito, queridos 3 leitores, da noite de quinta-feira, véspera do dia do trabalhador, noite no Cais Sodré, Musicbox, gente por todo o lado e uma fila. Uma fila que ia, de pirilau, desde o túnel até ao outro lado, ao Liverpool. Magotes de bípedes, quase todos entornados, olhando esperançoso para a porta da discoteca. Talvez pensando que um dia, um destes dias, um qualquer dia no próximo século, iriam finalmente poder entrar, beber um copo e dançar. Ideia de tal forma absurda que desde logo foi sendo aniquilada pelos porteiros do dito estabelecimento, enquanto iam abrindo cordinhas para os amigos passarem. E se eram muitos, os amigos! Dava para encher o Estádio da Luz com os amigos que os porteiros iam deixando entrar e talvez sobrassem ainda umas centenas para irem comprar roupas à Zara do outro lado da avenida.
Nisto estávamos, enfiados no pirilau da fila, anónimos sem capas vip nem cocaína para suborno, quando a lógica abstracção da noite ébria me deu a ideia – genial, admito – de ir beber um copo ao bar ao lado do Liverpool e dar tempo ao tempo, que os outros, os que estavam connosco, faziam o obséquio de pirilar. Copos aqui, cigarro acolá, mija nas escadas, tempo para fazer tempo para chegar a tempo de entrar no antro da caixa de música, conversa, isto e aquilo, pede lá mais uma, quanto é?, se calhar vamos ter com os gajos, se calhar já entraram, é chato eles estarem lá e nós aqui, esta está fresquinha, olha os gajos à espera mas esta está a entrar bem, fumamos só mais este e depois vamos. Fomos. Os bípedes tinham conseguido andar dois metros. Ficámos muito felizes e quase agradecemos ao porteiro tão grande gentileza de ter deixado entrar umas 7 pessoas em 40 minutos. Obrigado, porteiro.
Depois de 20 minutos a ter sede, conseguimos entrar. 8 euros para duas imperiais mijadas mas tudo bem, o que vale é que dia do trabalhador. Pista de dança, olhar em volta: o Sam the kid observava sobranceiro os restantes bípedes, Leonor Pinhão bebia o 50º vodka tónico da noite enquanto, no palco, à frente das imagens que pretendem ser alucinantes, João Botelho e uma corja de actores dançavam desenfreadamente levados de mansinho na crista daquele pó que é muito bom para as rinites alérgicas. Olha ali o gajo dos Cool Hipnoise de fato Gucci! E ali, naquele canto, o Rochemback com duas companhias voluptuosas, além da barriga! Viste a Beatriz Batarda? Não vi, não, que estava empenhado em conseguir em simultâneo dançar e segurar a imperial de forma a que não fosse ela a beber-me.
Gastas as rifinhas alcoólicas, mais uns passinhos de dança nos meus 30 centímetros quadrados de espaço, e a melhor ideia da noite: e se a gente bazasse daqui?
O porteiro desejou-me uma boa noite e agradeceu-me. São muito simpáticos os porteiros.

Saturday, April 25, 2009

O cri cri da crise

Como isto está, qualquer dia as pessoas começam a pedir autógrafos ao Camilo Lourenço e o Aimar não passará de alguém com um corte de cabelo parvo.
Acordo e atiro-me para o banho. Antes ligo o rádio e logo me inundam ondas cheias de pessimismo, lições sobre gestão financeira e possíveis conselhos para um suicídio em massa. Maço-me. Faço por esconder dos ouvidos as palavras dos especialistas na crise, deixo que a água corra sobre mim, inundo-me de optimismo. A vida, sem a frase montypythoniana, parece ser uma terrível construção de dias com destino traçado. Com ela, torna-se-me tudo suportável, até o peso do sono que se lava com gel de banho e duas ou três músicas cantadas a má voz, péssimo timbre e uma viagem de memórias que dura o tempo possível até a mão decidir fechar o banho numa torneira quente.
Puxo o elevador, e o som abafado do seu voo vertical traz-me e leva-me para a realidade. Sempre com o olhar, ressalve-se, de quem olha para o lado mais luminoso da vida. Para o lado bom.
Na rua, alguém lembra que o dia podia estar melhor. Rio-me. O rio que corre por dentro de mim não tem tempo para parar na margem das palavras inúteis e desesperadas. Sigo em frente pelo caminho mais longo das horas, enquanto dois cães se cheiram e não conhecem, nunca ouviram falar, numa tal de crise. É bom parar de vez em quando, fecharmo-nos no nosso próprio cinema, iluminar os dois cães com luz real, do sol, e ficarmos ali, espectadores das cenas que nunca chegaram a passar no filme. Este eu acho que o Ministério das Finanças não viu. Talvez tenha preferido um mais dramático.
No carro, empilham-se em frente, atrás, de lado, conjuntos de gente irritada, quase sempre sozinha, ouvindo as novas que o dia e as notícias trazem e têm para oferecer. Prefiro a velha cassete. Hoje vai o Camarón para o trabalho, amanhã o Hendrix, depois o Manu Chao e todos eles sem conhecerem o PIB nacional.
O Mundo anda tão preocupado com o que os outros têm para dizer que se esquece de se esquecer. Ontem, hoje, amanhã todos juntos num pacote noticioso que arma as pessoas para as conversas em corredores sem fumo e risadas entre twitters e messengers.
Amanhã levo um "Este dia está fabuloso" para as ruas. E espero que não me levem a mal.

Thursday, April 16, 2009

Kentucky fried entremeada

Ali, onde agora vive um senhor mamarracho de nome Colombo, era um baldio de terras aos solavancos, couves, armaduras de príncipes antigos e casas da idade do Fernando Pessoa. Ali, onde a esta hora senhoras elegantes e meninas petulantes encontram mais uma fantástica bugiganga para encher a vaidade dos quartos e salas de estar, foi, um dia, um parque arcaico de estacionamento, um caminho tortuoso até à catedral e uma enorme sala de repasto benfiquista. Ao ar livre, como tinha de ser.
O carro estacionava-se a 2 quilómetros do Estádio e a partir daí punham-se galochas e enfrentava-se o lamaçal. Antes de chegarmos ao repasto, deliciava-nos todo aquele benfiquismo em forma de gente: grupos de 10, 15 pessoas faziam círculos imperfeitos em volta de uma fogueira, de um fogareiro e de uma panelona digna de reis que no seu interior aquecia e amparava um bruto cozido à portuguesa ou, para os mais sensíveis às vicissitudes das transformações gástricas, um belo de um caldo verde, recheadinho com chouriço do melhor que podia haver; para beber, tinto, que era a cor e bebida naturais de quem, por dentro, levava acesa a chama imensa.
Normalmente, eram homens, pais e filhos, poucas mulheres e ainda menos filhas. No entanto, a equipa feminina de cada família tinha também o seu ofício, visto que vinham das mãos delas os repastos que tanto aconchegavam o estômago e o coração dos seus mais-que-tudo. A fome e a sede, ali, naquele sítio onde hoje ardem galinhas de Kentucky e carnes do Sr. MacDonald, não eram mais do que a medida certa para o impulso de noites de glória. Começava com o ritual de comer e beber; acabava em goles de golos.
Para quem não levava metade da casa atrás, esta era uma visão que aproximava e apaixonava e servia de entrada ao que viria a ser a refeição, sentados que ficávamos em banquinhos corridos de madeira rodeando as casas de repasto, quase sempre entregues a famílias inteiras. O ritual era simples: fazia-se um rectângulo de balcões, em volta bancos para os benfiquistas não comerem de pé e lá dentro era uma festa de cerveja, vinho e cheiros de carnes com muita gordura. Para os meninos, trina de laranja, para os pais, vinho em barda, que a noite era uma criança. Nos entretantos, enquanto se trinchavam pedaços de entremeada, febras e as sopas iam ao lume, e regados, bem regados, a cerveja, a tinto, a branco e, para os mais friorentos, a abafadinho, discutiam-se onzes, dizia-se mal do treinador (sim, já na altura acontecia) e ansiava-se pela hora da visão gloriosa de um relvado iluminado por 4 focos de luz. Os pais faziam a sua pedagogia, perguntando aos filhos o nome dos 11 heróis que iriam entrar em campo, os filhos acertavam em 3 ou 4 jogadores mais conhecidos e de tempos a tempos até aparecia um que falava no nome de um jogador de um rival nacional. O pai não gostava, batia com o copo com força na madeira e gritava: "esse é lagarto, filho!" e o filho, que nunca se tinha apercebido de que os homens tinham a capacidade de se metamorfosear em répteis, bebia mais um gole de trina enquanto dizia para dentro que nunca mais abria a boca para dizer o nome daquele jogador.
E o mais bonito de tudo era quando, na mesma mesa, se juntavam avô, pai e filho. E todos eles, ali sentados em redor de um objectivo, apesar das idades, a sentirem o mesmo: a pulsação acelerada, a ansiedade, o nervosismo, a paixão. Todos eles com o coração da mesma idade.

Wednesday, February 04, 2009

César Monteiro

Quer começar por apresentar o filme?

- O filme apresenta-se a ele próprio. A minha cabeça esvaziou-se. O filme saiu-me da cabeça e está registado. Não tenho a noção de conjunto, do que está feito. Se calhar daqui a uma semana já tenho; é que ainda não o vi.

Nesta fase de montagem não tem, paradoxalmente, uma ideia muito mais precisa? Há um visionamento do que foi feito.

- Mas é parcelar e descontínuo. Trabalha-lhe sobre parcelas e não sobre a totalidade.

Também se filma em parcelas. O filme corresponde ao que idealizou, ao que começou por existir na sua cabeça?

- Sim. É um filme cheio de peripécias que deveria ter sido feito em 92. Foi inicialmente pensado para ser rodado em Paris e depois andou em bolandas. Por razões que têm a ver com produção, orçamentos, etc, foi-me proposto que fosse feito em Évora. Mas achei que não dava, a minha relação com a cidade... Depois pensei no Porto; andei a ver lugares e chegou a ser escrita uma versão portuense. Mas faltaram-me alguns apoios locais, nomeadamente da parte de cenografia, e optei por Lisboa.

Não deixa de ser interessante que, apesar de todas as peripécias, Lisboa continue a ser a sua cidade; mesmo sendo uma cidade diferente da que filmou nas «Recordações da Casa Amarela».

- Sim, mas o filme tem muito pouco de Lisboa porque ao fim da primeira semana de rodagem levou uma grande volta. Apareceu-me um actor, muito bom actor, que vinha para fazer um papel pequenino; achei que seria uma pena desperdiçá-lo e resolvi confiar-lhe a parte que me estava destinada. Era para ser uma viagem numa carroça puxada por um burro, uma espécie de périplo joyciano com visita a vários lugares. Resolvi mandar tudo às urtigas e o périplo ser confortavelmente narrado.

Mas continua a ser um périplo joyciano, no sentido de atravessar a condição humana?

- Sim, sim. O filme é maioritariamente falado em francês. Ainda pensei em fazer uma versão portuguesa mas não pude contar com os actores com quem me apetecia trabalhar, não estavam disponíveis.

Voltando à essência do filme e ao périplo joyciano. Quais são, no filme e para si, os pontos chave do percurso?

- É preciso que eu faça um pequeno preâmbulo. O objectivo era fazer o filme para comprar uma casa, não sei se me faço entender, ganhar massaroca. A fórmula que me deu dinheiro foi um contrato, vantajoso financeiramente, que assinei com o meu produtor para fazer este filme.

Filma, então, para comprar casas?

- Fiz este filme para comprar uma casa. Pode ser que faça outro para comprar uma segunda residência. Portanto, parece haver da minha parte um certo interesse no chamado investimento imobiliário. Isto é uma coisa muito segura; o filme é mais duvidoso. Para já há um pequeno paradoxo: não faço a mais pequena concessão ao comércio, ao público, embora um filme seja um objecto comerciável, com um determinado valor enquanto mercadoria. Mas aí, já ganho muito pouco.

Como assim?

- Poderia ganhar se me fossem pagos os direito de autor, se houvesse uma sociedade que se ocupasse disso e não há. Posso dizer-lhe que até hoje, em direitos de autor, ganhei trezentos e quarenta escudos e tenho mesmo o recibozinho que vou emoldurar.

Mas vive-se hoje uma fase diferente no cinema português. Com este filme ganhou dinheiro para comprar uma casa.

- Ouça, se me pagam para poder comprar uma casa suponho que não é pelos meus lindos olhos... Suponho eu.

Nunca questiona o seu talento?

- Eu não sei se tenho talento, começo por aí. Não me ponho essa questão, nunca na vida, quero lá saber! A única coisa que faço questão... Como costumo dizer, é merda mas é a minha. Deixar as minhas marcas. Num filme, no mundo.

Mas esse é um processo que envolve prazer? Os filmes dão-lhe prazer?

- Não me dão nenhum particular prazer. A não ser episodicamente. Posso entusiasmar-me com determinados planos, porque sinto que há uma conjunção de factores múltiplos favoráveis a um bom resultado. Dá-me imenso prazer ver o jogo de actores e a relação que estabelecem com a luz e com o resto.

Faz filmes exclusivamente porque precisa de ganhar dinheiro, não os faria de outra forma?

- Não.

O que é que gosta de fazer?

- Nada. A sério.

O que é o seu ideal de um dia perfeito?

- [Hesita] Não sei se há dias perfeitos. Sou sensível aos ruídos, à luz, às pessoas, mas não sou antropocêntrico. Estou cada vez mais céptico em relação aos seres humanos.

Está desencantado?

- Eu nunca gosto de ser muito afirmativo... Digamos que estou pouco encantado. Desgosta-me a sociedade da qual me tento excluir na medida do possível. Mas isso tem um preço, não é muito agradável. Não tenho à minha volta as pessoas que queria.

Essa margem de desencanto foi-se agudizando com a idade? Deixou de ser ingénuo ?

- Não sei se perdi inteiramente a inocência. Se não perdi inteiramente estou em vias de. Mas tento preservar o meu lado infantil. O mundo é das crianças.

O princípio das crianças é o princípio do prazer.

- Não tenho tido muita convivência com crianças. Sinto-lhes a falta. Acho que é o meu mundo. A sua espantosa capacidade de curiosidade e a sua espantosa capacidade de verbalizar o que vêem, o que ouvem e o que sentem.

Olhando para si não se consegue imaginar como foi o João César Monteiro Criança.

- Venho de uma pequena cidade de província, uma pequena cidade chamada Figueira da Foz, e estabeleci logo uma reputação que não era boa, devo confessar. Diziam que tinha comprimidos atómicos dentro do corpo, que era muito endiabrado. E dizia-se pior ainda: que eu era o terror da cidade. Fazia, em suma, as piores patifarias, coisas mesmo atrozes. Uma vez pus uma cana na porta de saída do autocarro para as peixeiras caírem. Outra coisa que também me agradava muito era apalpar mamas, sobretudo a criadas. E por isso fui punido com um bofetão. Tinha sete, oito, nove anos.

Uma hiper-sexualidade?

- Não diria tanto. Seguramente era a sexualidade difusa da idade. Outra coisa que eu gostava muito de fazer era levantar saias às meninas. Fui suspenso do liceu quinze dias.

Dava-se com rapazes ou com raparigas?

- Com rapazes. As meninas era só para espreitar debaixo das saias.

Qual é para si a grande diferença entre ter uma amiga mulher e um amigo homem?

- Bom... A pergunta é embaraçosa. Como não tenho amigos, nem amigos homens nem amigas mulheres, isso coloca-me alguns embaraços. Aceito mal algumas expressões, como “gosta de mulheres, gosta de homens”. Não é verdade que goste de mulheres. É rigorosamente verdade que posso gostar de algumas mulheres. Poucas. E homens a mesma coisa. Mas isto não responde à questão da amizade. Tratando-se de amizade não há diferença nenhuma. Só que, às vezes, com as mulheres acontecem outras coisas que já não têm a ver com amizade. Têm a ver com desejo ou com paixão. Evito falar na palavra amor. A diferença entre amizade e amor é que o amor é sempre, sempre exclusivo.

É um homem de muitas paixões? O cepticismo de que falou também se estende ao campo amoroso?

- Sou sensível às fraquezas da carne e normalmente fico-me por aí. A minha rota é uma rota de gratidão, «Obrigadinho por este bocadinho». Vai-se além disso uma, duas vezes na vida. Sei do que estou a falar porque já tenho cinquenta e oito anos - embora não pareça... Homens, nada!

Transporta sempre essa sexualidade à flor da pele para os seus filmes?

- Ah! Pois concerteza.

Neste filme como se inscreve o desejo?

- O desejo está inscrito no corpo do filme e na cabeça das personagens masculinas.

Parece que na sua cabeça as mulheres não têm desejo, são só objectos de desejo.

- Trouxeram-me uma vaca francesa para este filme, o que é que poderia fazer? Não tenho culpa nenhuma. Os actores eram muito mais interessantes que as actrizes e isso conta. Digamos que este é o meu primeiro filme misógino. O que não quer dizer que suceda no próximo.

Na sua cabeça está sempre tudo a mudar.

- Ai isso está.

Ao cabo de uma semana de rodagem decidiu alterar tudo com a chegada de um actor francês.

- Repare que foi ele que decidiu. Se não fosse aquele actor...Foi ele que fez mudar o curso das coisas.

Mas foi você que orientou a mudança das coisas.

- Mas esse é o papel de um cineasta.

Qual é a sua atitude? Mudar diariamente, adaptando-se às circunstâncias?

- Exactamente. É um processo muito pouco egocêntrico, isto é, há um ego que não impõe nada, que se deixa visitar como uma fêmea e que recebe as coisas.

Eu diria que é terrivelmente egocêntrico, está nos seus filmes de todas as formas. Mas enquanto cineasta há aqui uma pequena incoerência. No começo da nossa conversa falámos de si enquanto general e da equipa que existe para executar as suas ordens; agora estamos a falar das sugestões da equipa e da sua relação com o general.

- Eu faço uma distinção entre equipa e actores. A um fotógrafo peço que seja feita uma fotografia assim e não assado; isto é acordado e não tem discussão. Este é um filme feito com um projector e o resto com luz natural. O som acordou-se que era directo. Isto são coisas traçadas desde o início do filme. O relacionamento com actores é de outra ordem. No meu caso recuso a palavra director de actores, não sei dirigir actores, não quero dirigir actores. É uma relação de cumplicidade e empatia para que as coisas funcionem. Ou não. Se não se estabelece uma troca não há funcionamento possível. Foi o que aconteceu com a vaca francesa que me foi impingida pelos produtores. Neste filme, por circunstâncias várias, houve um óptimo relacionamento.

É mais sensível ao talento ou à componente humana?

- Sou sensível às duas coisas, tenho preferência por uma humanidade talentosa. Ainda agora tive um susto com um actor. Sabia que era talentoso, simplesmente apareceu-me num estado inconcebível, a cair de bêbedo e sujo. A minha primeira reacção foi «Este tipo vai para Paris, já!», e cheguei a falar-lhe nisso. Depois dormi sobre o assunto e preparei-me para o aguentar três ou quatro dias, era um papel pequenino, podia transformar a personagem dele num bêbedo insuportável. No dia seguinte ele apareceu-me lavadinho, vi-o num primeiro plano, fulgurante, pensei que ia bem com o outro e poupava-me trabalho a mim porque era eu que ia fazer o papel...

Não gosta mesmo de trabalhar, pois não?

- Não tenho o direito de dizer que não gosto de trabalhar porque o meu trabalho num filme é privilegiado, sou omni-senhor. Nesse sentido gosto. O que acontece é que não estava em condições físicas de suportar a dureza de um filme. Adaptei-o à minha debilidade física e até, de certa maneira, psíquica. Fiz um filme em cinco semanas trabalhando quatro horas diariamente.

Qual é o seu esquema, ensaia as coisas, prepara-as minuciosamente?

- Nem sempre sai, mas tento filmar à primeira. As coisas estão devidamente preparadas, sobretudo neste filme com sequências bastante longas- alguns planos têm dez minutos. Para os actores é formidável, nem sequer têm aquele aparato da luz...

A luz e a música são elementos fundamentais nos seus filmes.

- Sob esse ponto de vista, este tem coisas fabulosas. Tive sorte, apanhei dias de nuvens com vento e, como os planos são longos, as variações luminosas são muito grandes.

Filmar com a luz natural...

- É o grande iluminador, o Nosso Senhor...

Isso prende-se com uma ligação maior à vida e às pessoas de todos os dias?

- Sobretudo permite rodar com uma grande rapidez. Chegámos a filmar vinte, vinte e cinco minutos por dia. É mais que nas telenovelas sem ter o ritmo das telenovelas. Há só um ângulo, que foi aquele que escolhi, e não há mais nada, não há rede.

As coisas já estão grandemente definidas quando chegam à montagem?

- A montagem de imagem fez-se numa semana. O som dá mais trabalho.

Voltando à luz e às pessoas. De que estímulos é que se alimenta para a sua construção, enquanto cineasta e enquanto pessoa?

- Onde vou beber? Tirando a parte alcoólica da questão, alimento-me do que fui sedimentando ao longo dos anos, das minhas memórias, das coisas com que me fui cultivando. Livros, músicas, filmes, bacalhau com batatas...

E observa muito as pessoas?

- Agora menos.

Não me diga que as personagens da «Comédia de Deus» ou da «Casa Amarela» saem todas desses livros, dessas músicas e desses filmes. Está com essas pessoas?

- Um bocadinho. Quer dizer, há umas camadas sociais que não aprecio assim muito. O que resta de certas camadas populares, certas tascas antigas...

Porquê essas camadas populares? É a procura da simplicidade?

- Há um certo modo de estar, que curiosamente não é preconceituoso, um certo à vontade, até no modo de expressão, por vezes grosseiro, que me agrada. Não é um modo simples, é um modo franco.

Todas as entrevistas suas que li foram feitas por homens; a sua linguagem era, por vezes, grosseira - para usar o seu termo-, e mais próxima daquela que é a sua linguagem fílmica.

- Mas eu posso ser extremamente delicado.

O que é que o faz ser delicado?

- A alteridade, isto é, o reconhecimento do outro.

Significa que se eu fosse um homem e usasse outras palavras...

- Não, significa que eu posso ser extremamente delicado quando sou afectuoso, quando há um embrião de afecto. Sou uma pessoa doce, de um modo geral. Mas também tenho fúrias.

Tem um conhecimento e um controlo de si na doçura e na agressividade?

- Normalmente controlo-me; ou faço as coisas deliberadamente. Quando não gosto de uma pessoa, cinco minutos depois dou-lhe a entender isso mesmo, para que não haja equívocos; e quando gosto, utilizo os meus estratagemas.

Vai treinando?

- Um bocadinho. Agora como descobri que sou actor, um péssimo actor, mas enfim...

Acha mesmo que pode dizer isso de si? Até já ganhou um prémio muito sério...

- Acho que não sou um bom actor.

E realizador?

- Acho-me francamente bom, atendendo ao que há para aí...

Agora é actor...

- Sim, faço os meus exercícios. E como criei uma personagem, dá-me um certo prazer, na vida real, de vez em quando, comportar-se como o Senhor João de Deus.

Mas ele não é uma parte de si, um dos seus heterónimos? Há o Max Monteiro- Actor, o João César Monteiro- Realizador, o João de Deus- Personagem...

- É um personagem com determinadas características, um ser livre. Praticamente tudo lhe é permitido. Utilizo-o como um teatro. Por vezes torna-se chocante. É verdade que isto incide sobretudo em meninas ou em senhoras.

E como é que elas reagem ao seu treino de Senhor João de Deus?

- Digamos que em cada dez há uma que marcha. As outras nove manifestam pouco interesse na personagem e a personagem não se torna demasiado insistente. Não vale a pena pregar no deserto.

Você é muito mais lúcido do que parece.

- Toda a gente que me conhece sabe isso. De maluco tenho muito pouco.

Gosta de representar, então.

- Mas não acha que o nosso quotidiano é muito cinzento? Eu raramente me aborreço. Um dos meus prazeres é olhar para as meninas, vê-las passar, cheirá-las, extasiar-me com elas.

É uma relação unilateral.

- Felizmente é uma relação unilateral, senão não tinha mãos a medir!

Esse é o seu primeiro pensamento? Estamos aqui na esplanada...

- Sim, pode dizer-se. Se eu fosse um sucesso total, tinha de abdicar, não fazia mais nada. Tenho de catar melhor a vizinhança, talvez haja alguma mãe solteira nas redondezas...

Poderia viver num outro país, numa outra cidade?

- Pensei em ir viver para o Porto. Noutro país nem pensar! Não me imagino a viver em Paris ou em Barcelona.

É assim tão português?

- Sim, sim.

Os nacionalismo preocupam-no?

- Os nacionalismo preocupam-me. E o Bundesbank também. Não sou um nacionalista, tenho é ligações com isto. Por acaso, não especialmente com Lisboa.

Não especialmente com Lisboa? Quase parece um contra-senso, depois de o ver e de o ler.

- Cheguei à conclusão de que podia viver no Porto. Não poderia viver, ou viveria mal, em Évora ou na Figueira da Foz.

Do que é que precisa nos sítios para lá viver?

- Preciso de uma casa.

Também pode ter uma casa em Évora.

- Uma segunda residência, para os fins de semana. Preciso de uma ou duas mulheres, não mais, e de crianças, que até já podem estar feitas.

E crianças um bocadinho mais crescidas? Raparigas tenras como as que apareceram nos seus filmes.

- Gosto de crianças crianças. As adolescentes da «Comédia [de Deus]» sabem mais do que eu, foram muito bem industriadas e não são assim tão novas como parecem. Não é que tenha um gosto especial por crianças...; gosto de algumas. Até suponho que tenho uma; por acaso é rapaz.

Se fosse rapariga mudava alguma coisa?

- Mudava porque se trataria de um outro ser.

O que é que tenta passar ao seu filho?

- Tenho uma boa relação com o meu filho. Neste momento não faço grande coisa com ele porque não o tenho visto. Mas gosto de levá-lo a passear, impingir-lhe umas coisas, o gosto pela leitura, desviá-lo da televisão na medida do possível _ o que é difícil para um pai hoje em dia. Temos alguns gostos comuns, não necessariamente cinematográficos.

Ele vê os seus filmes?

- Vê, não estou seguro de que goste de todos. Mas isso para mim não tem importância nenhuma.

Há alguém a quem mostre os seus filmes e cuja apreciação crítica seja relevante?

- Tenho imenso respeito por alguns críticos de cinema. Que já morreram. Aqui há uns dez anos atrás havia uma pessoa que tinha bastante importância a quem eu mostrava os argumentos que escrevia, o Carlos de Oliveira. Morreu e não encontrei substituto.

Não me diga que nunca se sente inseguro?

- Acho que sim. Num filme, por exemplo, é uma coisa que toda a equipa sente. Tenho uns truques. Normalmente passam por... Bom, não devia estar a revelar isto... Faço umas birras e não sei quê. O intuito é, quase sempre, ganhar tempo, se se trata de uma cena mal pensada ou qualquer coisa no género.

Além da insegurança, revela sentimentos como a sensibilidade extrema ou a comoção?

- Por vezes sinto-me empedernido, mas ainda me consigo comover.

Lembra-se da última vez que chorou?

- Lembro-me que chorei depois de ter sido agredido por três ou quatro polícias. Chorei de raiva e de humilhação. Ainda por cima foi uma história disparatada. Eu encontrei um tipo que é deputado do Partido Socialista, por acaso um rapaz do Porto, e entrei com ele em S. Bento, na Assembleia, a conversar; depois, ele deixou-me num corredor e eu andei para ali sozinho até que, de repente, me saltam três ou quatro polícias em cima.

E agridem-no sem você fazer nada?

- Exactamente.

Está a falar a sério?

- Estou a falar a sério. Chamei-lhes logo Filhos da Puta, uma expressão que utilizo muito. Gosto imenso da expressão Filho da Puta. Tenho uma engatilhada há anos. O meu sonho é ser julgado em tribunal e quando o juiz disser «levante-se o réu», a minha resposta é «levante-se você, seu filho da puta». Agora, como para chegar até ao tribunal é uma maçada, estou a pensar metê-la num filme.

Seria óptimo para si viver numa anarquia.

- Seria bom para todos. A anarquia é uma coisa muito ordenada.

Qual é o seu ideal de sociedade?

- Sou por uma transformação radical da sociedade, por meios violentos. Se pudessem ser pacíficos tanto melhor, mas já se sabe que assim não se vai lá. Vai haver uma nova revolução, mas não nos mesmos moldes das fracassadas revoluções.

Não se sabe é quando.

- Todo o sistema capitalista está agónico, é um sistema autofágico. A revolução será menos classista e, se calhar, serão os próprios ricos _ deixe-me usar esta linguagem simples _ que vão ter de a fazer. O mal estar está perfeitamente instalado na classe dominante. A classe dominada tem os problemas do costume, de sobrevivência, etc; a outra tem toda a estrutura familiar desfeita, os filhos tresmalhados... Se não lhe quiser chamar revolução chamo-lhe, pelo menos, reciclagem do sistema.

Consegue imaginar-se daqui a vinte anos, com ou sem essa revolução?

- Consigo. Imagino-me na mesma.

Há vinte anos imaginava que iria ser o que é hoje, fazer o que faz hoje?

- De maneira nenhuma. Fazia uns filmezecos, sem pretensões nenhumas. Eu não melhorei; os outros é que pioraram. Piorou o cinema. Emergi por desmérito dos outros, não tanto por mérito próprio.

Vai fazer o culto do antigo? Dantes é se faziam bons filmes, escreviam bons livros, compunham boas músicas. Não há coisas que agora se façam que aprecie?

- De um modo geral não. Não vou ao cinema. Gosto de um iraniano, o Kiarostami, até lhe mandei um telegrama a dar-lhe os parabéns pelo prémio [em Cannes]. Na poesia fiquei-me pelo Herberto Helder, e gosto do Joyce.

Nós começámos por falar de um périplo joyciano. Se tiver de procurar a essência de si, como o Ulisses, o que é que encontra?

- O que encontro é uma coisa muito confusa e muito diversificada. O ser humano é múltiplo, tremendamente contraditório e não gostaria de catalogá-lo em termos de Bem e de Mal.

Quem estipula as balizas de Bem e de Mal?

- Como sou evidentemente ateu, sou eu que estipulo as minhas balizas de Bem e de Mal.

Nunca se agarra a nada quando se sente desesperado?

- Agarro-me à Ana! [a namorada, que está ao lado]. E agarro-me a uma garrafa de whisky. Enquanto cineasta é a mesma coisa; só que não me agarro à Ana, agarro-me aos filmes. Não é importante ter uma mente sã; só é importante ter um corpo são. Odeio a ideia de ser imobilizado pela doença.

Tem medo da doença?

- Tenho medo por várias razões. Inclusivamente porque não tenho assistência social, os médicos são uma fortuna, os hospitais, como diria o Baudelaire, são matadouros, e, como tenho medo, nunca adoeço. Apanho umas bebedeiras e no dia seguinte estou bom.

Do que é que tem medo, além da doença?

- Para ser franco, da miséria, da fomeca, de não ter onde cair morto e não tenho medo de morrer.

Tudo isto vinha a propósito das noções de Bem e de Mal.

- Sim. As noções remetem para uma atitude moral, não exclusivamente da esfera pessoal, também toca o cinema. Para mim o cinema não tem nada a ver com a moral, mas sim com o que é sagrado e o que não é sagrado.

O seu cinema, curiosamente, está cheio de rituais. O que é sagrado para si?

- O sagrado é o que toca a criação. Quer seja um filme, quer seja um filho. São os meus limites, a fasquia que não devo ultrapassar. Ultrapassar isso é matar, ou, se quiser, matar-me matando.


Entrevista por Anabela Mota Ribeiro (Dna), 1997

Wednesday, January 28, 2009

E o que é que o cu tem a ver com as calças?

Não é preciso ver programas de humor para andarmos entretidos nesta vidinha. A situação que ontem se passou com este que vos fala (sou eu, para que conste), tem tanto de hilariante, de caricato e de inverosímil que cheguei a pensar em agarrar num comando de televisão, se o tivesse ali, para aumentar o som. E é isto:

estando eu em labor árduo, transportando os meus bens do carrinho de compras para a passadeira rolante de uma caixa do Continente (duas garrafas de vinho, uma cola barata, azeite, carne picada, queijo ralado, dois pacotes de leite, pão caseiro, esparguete, polpa de tomate e manteiga, tudo 15 euros que até nem é muito), quando vejo que o gajo à minha frente era polícia. Estava todo aperaltado com a farda do trabalho, pistola e tudo, e um ar algo constrangido por estar a comprar, além de fraldas, um enorme embrulho de papel higiénico. O gajo era alto e forte e talvez sentisse culpa de não estar, como eu, a levar álcool mas coisinhas necessárias para a criança e para o cu. Até aqui tudo bem, os polícias também o limpam devidamente, nada a apontar, embora tivesse reparado que o papel escolhido não era dos mais meigos para a sensibilidade anal mas ao preço que as coisas estão a gente tem mais é de aceitar e pouco barulho que o respeitinho é muito bonito. Estávamos, portanto, nisto quando do seu rádio vem a notícia: pii pii pii atenção que o BPI foi assaltado, todas as unidades à esquadra pii pii pii.
Era de esperar que o papá dedicado mas, acima de tudo, oficial em serviço e excelente no apoio aos bípedes alheios, saísse dali a correr, sem pagar sem nada, esperando, claro, o apoio inequívoco de todos os outros cidadãos e do próprio caixa - quando o BPI está a ser assaltado, convém que todos nós façamos um esforço, está bem de ver. Mas qual quê! A preocupação maior do nosso agente era procurar pelo cartão Continente! Dado este, veio a pergunta inevitável: "quanto é que já tenho no cartão?" ao que o caixa, competentíssimo na arte, respondeu: "8 euros" e perguntou: "quer descontar?" sendo que o polícia responsável (e prezador da boa higiene, já foi dito) anunciou: "deixe estar, fica para a próxima".
Não fosse o facto de o BPI estar a ser assaltado, esta teria sido uma conversa banal, sem interesse e desprovida de espectacularidade humorística. Não tendo sido pelas razões apontadas atrás, ganhou contornos nunca antes pensados por quem, simplesmente, se desloca a uma caixa de supermercado.
Ele ainda disse mais qualquer coisa mas nessa altura eu já tinha mudado de canal.

Tuesday, January 27, 2009

A estúpida com nome de livraria.

Uma tal de Sofia Buchholz escreveu esta coisa (http://31daarmada.blogs.sapo.pt/2094159.html?page=2#comentarios):

"Acabei de ver a "Grande Entrevista" da Judite de Sousa com o Cristiano Ronaldo. Nunca o tinha ouvido falar mais de alguns minutos. Confesso que até fiquei confrangida de o ouvir. Tive pena do rapaz. Não há ali um raciocínio claro, uma construção gramatical correcta, o mínimo de eloquência. Atrever-me-ia a dizer que aquilo já é iliteracia. E se é assim em português, pergunto-me como será em inglês?!"

Isto pode parecer ingénuo, pode parecer escrito por alguém que, além de ser uma imensa e inequívoca imbecil, acha que do futebol não vem nada de positivo para a sociedade. Pode parecer. Mas não é. Esta arrogância, esta estúpida necessidade de exigência aos outros (afinal, o homem é só o melhor do Mundo naquilo que faz) que não exigimos a nós próprios, fazem parte do mais intrínseco que corre nas veias de grande parte dos bípedes que vêem ser-lhes dada a nacionalidade portuguesa.

Isto não é só mais uma idiota pseudo-pseudo-pseudo-pseudo-culta com manias de superioridade moral, estética ou de conhecimento. Isto é a face mais absurda, néscia, estulta e degradante da nossa pátria ao espelho.