Prefiro as críticas de cinema, as crónicas e os desvarios virtuais do Pedro Mexia aos seus poemas. Acho aquela poesia urbana interessante, mas longe de seduzir à exaustão. No entanto – e é sinal que me marcou de alguma forma – retenho trechos de poemas, ideias, pensamentos desse “Eliot e outras observações”. Uma observação mais recorrente é daquele poema que diz que até as linhas traçadas sobre a porta do metro podem dar companhia aos homens sós. Está bem desvendado, o enigma. Numa ou duas frases fica descodificada a solidão, assim, sem meias tintas, sem lugar para a explicação.
Os homens que vão habitando os cubículos do metro, alugando viagens esporádicas de 30 minutos, 10 minutos, 5 minutos, são pessoas com medo. Umas fingem dormir, com a cabeça tombando em soluços, outras lêem, descolando a retina enquanto o pulsar metódico do trem nos carris vai embalando a manhã, outros olham. No vazio, olham. As portas do fundo, o reflexo na janela, as tais linhas do metro sobre as portas, as unhas, a magnifica arquitectura dos pés, a estrondosa arte com que foi fabricado o tecto. Limpam as calças com uma mão rasante, vêem as horas segundo a segundo, coçam-se, atam os sapatos, descobrem uma borbulha interessantíssima no braço esquerdo – que os distrai o tempo exacto até saírem dali, fugirem, verem o céu, poderem olhar de frente as coisas, os animais, as pessoas como eles, que de repente esqueceram as unhas, os pés, a arquitectura do metal dos bancos, o jornal, o sono, a dor. Esqueceram-se de repente que tinham e têm medo. Sempre.
Os homens que vão habitando os cubículos do metro, alugando viagens esporádicas de 30 minutos, 10 minutos, 5 minutos, são pessoas com medo. Umas fingem dormir, com a cabeça tombando em soluços, outras lêem, descolando a retina enquanto o pulsar metódico do trem nos carris vai embalando a manhã, outros olham. No vazio, olham. As portas do fundo, o reflexo na janela, as tais linhas do metro sobre as portas, as unhas, a magnifica arquitectura dos pés, a estrondosa arte com que foi fabricado o tecto. Limpam as calças com uma mão rasante, vêem as horas segundo a segundo, coçam-se, atam os sapatos, descobrem uma borbulha interessantíssima no braço esquerdo – que os distrai o tempo exacto até saírem dali, fugirem, verem o céu, poderem olhar de frente as coisas, os animais, as pessoas como eles, que de repente esqueceram as unhas, os pés, a arquitectura do metal dos bancos, o jornal, o sono, a dor. Esqueceram-se de repente que tinham e têm medo. Sempre.