Friday, July 28, 2006

Pedro, Lembrando Inês



Em que pensar, agora, senão em ti? Tu, que
me esvaziaste de coisas incertas, e trouxeste a
manhã da minha noite. É verdade que te podia
Dizer “ Como é mais fácil deixar que as coisas
não mudem, sermos o que sempre fomos, mudarmos
apenas dentro de nós próprios?” Mas ensinaste-me
a sermos dois; e a ser contigo aquilo que sou,
até sermos um apenas no amor que nos une,
contra a solidão que nos divide. Mas é isto o amor,
ver-te mesmo quando te não vejo, ouvir a tua
voz que abre as fontes de todos os rios, mesmo
ele que mal corria quando por ele passámos,
subindo a margem em que descobri o sentido
de irmos contra o tempo, para ganhar o tempo
que o tempo nos rouba. Como gosto, meu amor,
de chegar antes de ti para te ver chegar: com
a surpresa dos teus cabelos, e o teu rosto de água
fresca que eu bebo, com esta sede que não passa. Tu:
a primavera luminosa da minha expectativa,
a mais certa certeza de que gosto de ti, como
gostas de mim, até ao fim do mundo que me deste.

Nuno Júdice
In Pedro Lembrando Inês

Wednesday, July 26, 2006

Rembrandt van Rijn (1606-1669)



Philosopher in Meditation 1632 (110 Kb); Oil on wood, 28 x 34 cm (11 x 13 1/2"); Musee du Louvre, Paris

Há mulheres que nos fascinam




Maruja Torres é uma escritora e cronista espanhola. Conheci-a através dos seus escritos no jornal "El País", nesses tempos idos em que trabalhei com extintores na belíssima, linda, única, deslumbrante, fascinante Salamanca.
O nome dela, apesar destes anos de distância, nunca me saiu da cabeça. Impossível. A escrita era de tal forma arrebatadora e pungente que nem necessário foi escrevinhar o seu nome num papelinho, assim à deixa-cá-ver-se-escrevo-isto-para-depois-não-me-esquecer.

Numa pesquisa sobre a autora, deparo-me com este título de um livro seu: Hombres de lluvia.

É preciso dizer mais alguma coisa?

O incrível futuro

«Nada. Ninguém pode impedir que seja assim. Um dia, serei velho, terei uma colecção de queixas físicas, maiores e menores, e lerei o meu nome na capa de antologias, ao lado de nomes que, hoje, toda a gente desconhece. Terei cabelos brancos, já tenho, e pouco interessa imaginar se serão as costas a cansar-se primeiro, se será o estômago que quererá desistir; interessa apenas a esperança de, ainda nessa altura, querer ser velho, mais velho, e ter a sabedoria imensa de recusar ser antigo. Interessa saber olhar para esses nomes futuros e ser capaz de lê-los, que é o mesmo do que dizer: ser capaz de procurar no seu interior. Eles não precisarão de mim para nada, mas eu dependerei deles para tudo, para continuar vivo.
Hoje, alguns desses escritores estão na pré-primária que há no outro lado da rua onde vivo. Cruzo-me com eles muitas vezes. Têm chapéus amarelos, presos com elásticos por baixo do queixo, e atravessam na passadeira, de mãos dadas, em filas de dois, quando a educadora de infância decide levá-los a passear. Hoje, muitos desses escritores ainda não nasceram. Neste momento preciso, há namorados a imaginarem nomes para os filhos que não sabem se vão ter: se for menino, se for menina. É mais difícil encontrar nomes para rapazes, dizem. (…)»

- José Luís Peixoto (Jornal de Letras)


«Há muitas coisas que percebo que não sou, mas dizer exactamente o que sou não consigo. Tento, dia a dia, ganhar o título de ser uma pessoa. E já não é pouco.»

- José Luís Peixoto (Notícias Magazine)


«Penso que o amor é muito difícil. Existem muitos obstáculos a que possa ser o absoluto que é. A palavra amor é uma palavra muito gasta, muito usada, e muitas vezes mal usada, e eu quando falo de amor faço-o no sentido absoluto... há uma série de outros sentimentos aos quais também se chama amor e que não o são. No amor é preciso que duas pessoas sejam uma e isso não é fácil de encontrar. E, uma vez encontrado, não é fácil de fazer permanecer.»

- José Luís Peixoto (Notícias Magazine)

Monday, July 24, 2006

Poética do desespero sem nome




Lamber feridas. Encostar o coração à boca e gritá-lo disparado, como um míssil, para junto de ti.

Saturday, July 22, 2006



Acordei atordoado com o conteúdo do sonho que tivera, mas, simultaneamente, com uma plenitude própria de ter recebido uma mensagem que me era destinada.
Se o atordoamento tem justificação (quantos vezes acordamos de um sonho petrificados com o final do mesmo?), já a ideia de os sonhos serem constantes mensagens que o cérebro nos envia com a intenção de nos poupar sofrimentos (neste caso?), ou outro tipo de mensagens, deixou-me primeiro em êxtase, seguindo-se, rapidíssima, a total estupefacção.
Resumindo: acordei e tive duas sensações: estava atordoado pelo conteúdo do sonho e resignado pela forma como chegou até à minha consciência.
O irónico é que, acabado o período autista que surge quando abrimos os olhos, os papéis mudaram de lado.
Do atordoamento provocado pela mensagem propriamente dita, passei a uma compreensão e aceitação do conteúdo; por outro lado, a sensação de plenitude por saber o meu cérebro a funcionar correctamente, deu lugar à indignação e incompreensão.
Como pode o cérebro, animal vicioso e depravado, enviar mensagens directamente para os nossos sonhos, sem aviso prévio? E serão fiáveis essas mensagens? O que é que o cérebro sabe, que eu não sei? Tudo isto é perturbante…
Tendo em conta que o cérebro (entidade divina do corpo) faz parte de mim, e que sou constantemente surpreendido através dos sonhos, o que se pode (e deve) concluir é que eu não sei tudo sobre mim. Conclusão óbvia, dirão alguns. Não tão óbvia assim. Vejamos:
Qual será a credibilidade de um cérebro para pôr e dispor de nós, conforme entende? Achará o dito que nós não o conhecemos já de ginjeira? Aqueles sonhos todos trocados, aquilo é coisa que se apresente por parte de Sua Excelência, toda-a-poderosa Massa Cinzenta?
Não me deixo enganar. Aquelas vacas amarelas em cima da televisão, os amigos com corpos de cobra, os jardins da minha cidade inundados pelas ondas do mar em noites húmidas, a ex-namorada a dar-me beijos… Vou confiar neste tipo?
Não. Não, não e não. O exercício que vai revirar as entranhas já está no prelo: antes de adormecer, pensar em coisas totalmente normais: namorados no jardim aos beijos; vacas a pastar; uma mulher, em casa, a mudar canais; alguém que diz a outro: “Amo-te”.
Coisas comezinhas. O quotidiano. Nem mais nem menos. Quero ver se o gajo continua a mandar atrozes mensagens, enquanto descanso…
Esta foi a última vez que acordei a meio da noite para escrever sobre o cérebro. Acabou-se. Preciso de dormir, o corpo está cansado, não quero saber de mim mais do que aquilo que sei, não quero medos nem imaginações, não quero coisas impossíveis.

Ela levantava-se da mesa, olhava-me enquanto ajeitava o cabelo dos olhos, sorria (juro que o Sol lhe dourava a face) e dava-me um beijo.

Cabrão do cérebro. Não basta já a realidade?

Importa-se de repetir?



Estou em frente da televisão. Um programa da tarde tem como convidados especiais três actores dos “Morangos com Açúcar”. Os ganhos revertem para uma instituição. Na tela aparecem três palavras: Erodito, Estabilisar e Exímio.

- Qual destas palavras está bem escrita? – pergunta a entrevistadora.
- Hummm … - depois de 10 segundos, a actriz convidada: - Erodito!
- Não – diz Leonor, preocupada com as criancinhas que vêem o dinheiro por um canudo.
- Ah! Já sei – a entrevistada teve um visão de génio – Exímio! Pois, pois, é isso! Erodito está mal escrito. É erodiCto, com c…
A câmara filma o actor que se encontra ao lado desta Simone de Beauvoir da Falagueira. O ser ar é de pura descrença.

Como é óbvio, por uma questão de educação, não vou revelar a identidade desta brilhante actriz. Não seria digno.

Friday, July 21, 2006

Praga

Segue a viagem virtual a acompanhar o Sérgio. Cidade de muitas belezas, é, nos ditos do nosso viajante, a cidade com mais mulheres bonitas por metro quadrado. Esta informação nada tem de fútil; é, antes, um tratado à beleza e ao sublime...

Na última foto, não é despiciendo o galo, em primeiro plano. Digamos que é uma tentativa (mais ou menos patriota) por parte do autor deste blogue de relacionar os países. Numa abordagem psicológica, poderemos até falar em tentativa de estar mais próximo do viajante Sérgio e da cidade em causa. Quem não tem cão, caça com galo...


Thursday, July 20, 2006

Por morrer uma andorinha...



Se deixaste de ser minha
Não deixei de ser quem era
Por morrer uma andorinha
Não acaba a primavera

Como vês não estou mudado
E nem sequer descontente
Conservo o mesmo presente
E guardo o mesmo passado

Eu já estava habituado
A que não fosses sincera
Por isso eu não fico à espera
De uma emoção que eu não tinha
Se deixaste de ser minha
Não deixei de ser quem era

Vivo a vida como dantes
Não tenho menos nem mais
E os dias passam iguais
Aos dias que vão distantes

Horas, minutos, instantes
Seguem a ordem austera
Ninguem se agarre à quimera
Do que o destino encaminha
Pois por morrer uma andorinha
Não acaba a primavera

Carlos do Carmo

José Carlos Ary dos Santos


Partir É Morrer Um Pouco

Adeus parceiros das farras
Dos copos e das noitadas
Adeus sombras da cidade
Adeus langor das guitarras
Canto de esperanças frustradas
Alvorada de saudade.

Meu coração como louco
Quer desgarrar no meu peito
Transforma em soluço a voz
Partir é morrer um pouco
A alma de certo jeito
A expirar dentro de nós.

Voam mágoas em pedaços
Como aves que se não cansam
Ilusões esparsas no ar.
Partir é estender os braços
Aos sonhos que não se alcançam
Cujo destino é ficar.

Deixo a minh’alma no cais
De longe alcanço sinais
Feitos de pranto a correr.
Quem morre não sofre mais
Mas quem parte é dor demais
É bem pior que morrer!

Quem morre não sofre mais
Mas quem parte é dor demais
É bem pior que morrer!


Gaivota

Se uma gaivota viesse
trazer-me o céu de Lisboa
no desenho que fizesse,
nesse céu onde o olhar
é uma asa que não voa,
esmorece e cai no mar.

Que perfeito coração
no meu peito bateria,
meu amor na tua mão,
nessa mão onde cabia
perfeito o meu coração.

Se um português marinheiro,
dos sete mares andarilho,
fosse quem sabe o primeiro
a contar-me o que inventasse,
se um olhar de novo brilho
no meu olhar se enlaçasse.

Que perfeito coração
no meu peito bateria,
meu amor na tua mão,
nessa mão onde cabia
perfeito o meu coração.

Se ao dizer adeus à vida
as aves todas do céu,
me dessem na despedida
o teu olhar derradeiro,
esse olhar que era só teu,
amor que foste o primeiro.

Que perfeito coração
morreria no meu peito morreria,
meu amor na tua mão,
nessa mão onde perfeito
bateu o meu coração.

Alexandre O'Neill

Wednesday, July 19, 2006

O Poeta é um ser transcendental?



Casa - "Surpresa. Após tanto deste amor, supunha tê-lo espalhado pelo mundo."

- Giuseppe Ungaretti

Questão: Se "o poeta acaba sempre por encontrar as palavras que nos encaixam", como diz a azuki, o que faz com que esse mesmo poeta tenha essa capacidade? Nasce o trabalho do poeta através do seu especial talento ou, antes, de muito trabalho? Ou das duas? É da transpiração que vem a obra-prima ou da inalcançável transcendência?



Tuesday, July 18, 2006

Não, não é uma pintura antiga, é o Brad Pitt fazendo de Aquiles. E depois?


De um blogue não engravatado (Leitura Partilhada), um texto interessante, um dia depois de ter visto pela primeira vez o filme "Troy" e, mais uma vez contra preconceitos, ter gostado bastante do filme, ao ponto de achar que está bastante bem conseguida a (sempre) difícil tarefa de passar um livro destes para cinema:

INTIMAMENTE ESTAMOS TODOS DO LADO DOS TROIANOS Homero é inquestionavelmente um grande poeta, isso não se pode negar. Mas, devo cair aqui em uma heresia: para mim, a Odisséia é muito superior à Ilíada. A Ilíada tem algo de ignóbil, o tema de cantar a ira de um homem. Podemos salvar Homero supondo que se preferimos Heitor é porque ele também preferia Heitor. Creio que visto assim… por que todo mundo sente simpatia por Tróia e por Heitor e ninguém sente simpatia pelos gregos? É porque são melhor mostrados os troianos. Podemos supor que Homero, mesmo sendo grego, estava intimamente de lado dos troianos. Se todo mundo leu a Ilíada do ponto de vista de Tróia é porque o autor também a escreveu do ponto de vista de Tróia. Não creio que se equivocasse. Todos queriam descender dos troianos e ninguém quis descender de Aquiles. Posso lhe dar um dado bastante curioso: estava lendo a História dos reis da Noruega, de Snorri Sturluson, e há uma referência a Thor, o deus do trovão, e este homem escreve no século XIII, na Islândia, e diz que Thor era, sem dúvida alguma, proveniente de Héc-Thor. Todos queriam ser troianos, mesmo esse homem, ali no distante norte, queria que seus deuses fossem troianos. E depois, sempre que se fala de Odin se diz que veio de Tróia. Todos sentiam atração por Tróia. Não lhes ocorria dizer que eram parentes de Aquiles ou de Agamenon.

Jorge Luis Borges

Monday, July 17, 2006

Budapest

Ao meu amigo Sérgio, que por esta altura vagueia pelas ruas magiares de Budapeste, uma pequena comemoração da vida:






Saturday, July 15, 2006

Nalini-Poem



Drinking
a women laughs
in front of the sea
(I love her laughter).

Dancing and singing
on a roof,
In front of the sea
(a silent sea).

Her hands
(I love her hands)
are birds
hugging the night.

Her eyes (deep magic eyes)
(in front of the sea)
are melting
(dancing and singing).

Our eyes (hugging the night)
are melting
in front of the sea.

My words
(like birds)
dance
inside her heart.

She dance
(like birds)
inside my words.

Our hearts
(like words)
fly
above the sea.

And a bottle of Gin
make her say
that she loves me...


Ricardo Silveirinha

Firenze

É este o sítio que eu quero conhecer. Esperemos que em Dezembro...


Wednesday, July 12, 2006

Sunday, 1926, Edward Hopper



Do livro "El otro Sueño", 1987

A MAL CASADA (1987)

Dizes-me que Juan Luis não te compreende,
que só pensa nos seus computadores
e que não faz caso de ti de noite.
Dizes-me que os teus filhos não te ajudam,
que só te dão problemas, que se aborrecem
com tudo e que estás farta de aturá-los.
Dizes-me que os teus pais estão velhos
que se tornaram tacanhos e egoístas
e que já não és a sua menina como dantes.
Dizes-me que já fizeste trinta e cinco
e que não é fácil começar de novo,
que os únicos homens que conheces

são os colegas de Juan na IBM
e não gostas de executivos.
E eu, o que é que eu faço nesta história?
Que queres que eu faça? Que mate alguém?
Que dê um golpe de estado libertário?
Amei-te como um louco. Não o nego
mas isso foi há muito, quando o mundo
era uma reluzente madrugada
que não quiseste compartilhar comigo.
A nostalgia é um passatempo grosseiro.
Volta a ser a que foste. Vai ao ginásio,
Pinta-te mais, disfarça as tuas rugas
e veste roupa sexy, não sejas tonta,
que talvez Juan Luis te volte a mimar,
e os teus filhos vão para um acampamento
e os teus pais morram.

Luis Alberto de Cuenca

Tuesday, July 11, 2006

Closer, 2004, Mike Nichols



Um filme onde nada é o que parece. A começar pelo elenco. Lemos os nomes dos actores e ficamos com aquele amargo de boca, aquela sensação de estarmos perante mais um cansativo jogo de namorados, clichés e beijinhos no final com o plano a afastar-se.
Não podíamos estar mais enganados. O filme “Closer” de Mike Nichols é tudo menos um filme de Domingo à tarde para repousar o cérebro. De tanto nos “ofender” no nosso suposto belo romantismo, chegamos ao final destroçados, cansados e – ironicamente – repletos de uma sensação de reconforto. É no jogo entre o desvario das emoções e a crueza das soluções que todo o filme se sustenta. Aquele que domina afinal é o dominado. O que ama afinal não ama. O amor, esse, serve de cobaia para uma coisa maior – a realidade; e esse facto (o amor não reinar, antes servir) é uma revelação e uma balde de água fria nesta nossa mania de sermos muito leais, muito fiéis, muito romântico-patéticos.
Julia Roberts faz o melhor dos papéis. Nem parece a mesma. Afinal, Julia pode ser chamada de actriz. Natalie Portman, para além da beleza cinematográfica mais fascinante dos últimos tempos, é belíssima. Actriz, actriz, actriz. Um portento de representação. Jude Law, o mais fraco; ainda assim, capaz de transportar as emoções e cruezas da personagem. Clive Owen deslumbrante. Em todos os sentidos.
Quem quiser ver o filme, que veja. Não vou fazer sinopses nem resumos alargados. O filme merece ser visto por quem se quer desiludir da desilusão.

Monday, July 10, 2006

A melhor invenção do Mundo (só comparável ao futebol)


Ingredientes:

q.b. água tónica

1 casca de limão

40 ml gin

1 rodela limão

Preparação: Esfregue a parte verde de uma casca de limão nas paredes internas de um copo alto. Deite muitas pedras de gelo e o gin. Complete com água tónica. Decore com uma rodela de limão.


Thursday, July 06, 2006

We had a dream...

A final do Campeonato do Mundo é, desde ontem, uma impossibilidade. Apetecia-me dizer tanta coisa sobre o jogo, mas não...
Não digo nada. É certo que um objectivo enorme se gorou ontem à noite. Mas o sonho - ah o sonho! -, esse já ninguém mo tira...