Thursday, November 30, 2006

Como assim ó meu deus de Vasconcelos?





A morte de Mário Cesariny não é apenas a morte de um homem. Não é apenas a morte de um poeta, a morte de um pintor ou a morte de um rebelde. A morte de Cesariny traz consigo a sombra sobre um período profundamente criativo na poesia e nas ideologias entre os meios intelectuais (e não só) de um país que gritava, de entre os escombros de ideias mortas ou apenas revestidas de boçalidades.
Cesariny, dos surrealistas foi sempre o mais surrealista; de entre os homens foi sempre o mais homem – ainda que haja pessoas a confundir a homossexualidade com o estatuto de um ser, como género. De entre os bélicos, o mais bélico e – por que não? – de entre os mais belos, o mais belo. Com sentidos vários e em várias direcções.
Por isso, a morte de Cesariny não é apenas um poema morto, um quadro não visto, uma conversa a menos no Gelo em fogo que também já desapareceu como conceito.
A morte de Mário («como assim Cesariny, como assim ó meu deus de Vaconcelos?») é a morte de uma ideia.

Tuesday, November 28, 2006

Princesa




Percorrer sozinho a cidade, sem pressa. Subir escadas, ver varandas, descer ruelas, entrar em becos, abrir-me ao azul numa reentrância que serve de janela para o rio. O Tejo sempre presente, às vezes apenas um rectângulo ao comprido, por entre paredes lambidas por fantasmas molhados que são a roupa. Não há meio desta cidade ser organizada. Ela "canta sonhos" por isso mesmo - é a sua morfologia de princesa titubeante que lhe dá a graça...