Já alguém se deu ao gozo supremo de fazer uma viagem no tempo e consumir de forma selvática o álbum dos Low, "I could live in hope" (1994)? Não? É muito provável que o meu caro esteja errado mas não quero ferir susceptibilidades, até porque eu faço esta viagem temporal de uma forma anacrónica: viajo no tempo para descobrir lá o que lá nunca ouvi. Ou seja, vou de viagem a um lugar antigo para conhecer o que não conheci quando lá vivia. O que torna tudo ainda mais apetecido, embora, de certo modo, frustrante, porque a ideia de ter passado 17 anos sem este assombro luminoso é qualquer coisa que magoa lá não sei bem onde, no lugar dos prazeres.
O álbum vai por ali fora, sem dar satisfações a ninguém, meio desinteressado até, pulsando, pulsando, subindo na onda, deitando no chão, levantando no ar, puxando para perto, abraçando, comendo, largando no espaço, deixando voar, gritando no alto, caindo em mergulho, mergulhando em voo. Quando se dá por ela, está-se com o corpo todo marcado a sal e sol, cheio de asas nas costas e pombas nos pés. Não, isto está bonzinho. Vão lá ouvir que vos faz bem. Eu começo a cantar, o resto fazem vocês:
They tell you come tomorrow
Nothing for you now
You listen so intently
And slide
Hearing only yourself
You wait for the truth
How can you get it
When all you do
Is slide?