agenda para amanhã, ou o fim do mundo: sentar-me junto ao senhor sentado no largo central da aldeia e perguntar-lhe se aquele banco de jardim passa na nuvem 53; juntar-me ao bêbado dos semáforos a observar os carros com gente dentro; causa transtorno às pessoas pedirmos café e imperial ao mesmo tempo (o choque térmico, o irremediável choque térmico); o que falta ao mundo é mais mar; a saudade é este inútil silêncio com cheiro; comer Ruy Belo ao lanche; as pessoas deviam poder andar na diagonal; se eu sair agora rumo ao fim do universo ainda vou a tempo de ver os teus olhos?; a mais próxima visão de planetas distantes encontro-a nas retinas da gata Maria; há uma mão gigante que estoira o mundo como bolhinha de plástico; encontro-me sempre com o meu Pai nos sinos da garganta do Neil Young; a única dieta saudável é a que conta as calorias do prazer; deram-te um nome pelo qual respondes mas o que és começa e acaba antes de ele ser dito; há dias em que os livros da estante aquecem mais do que 10 fogueiras; não te deites sem o coração atrelado à almofada; eu dentro de ti no sal do mar do sol da Toscânia; voltar a jogar xadrez alcoolizado na terra de Pablo Neruda; agendar para o fim da existência o fim da existência; sobre o céu do Sado caem três cores exactamente à mesma hora, nenhuma diz o teu nome; a cada segundo desembarcam tropas na Namorandia; faltou a Hitler um pão com manteiga e tulicreme; conheço este cheiro, vem de quando não tinhas olfacto; na mercearia deixo de comprar manteiga por estar uma velha sentada num banquinho à frente da arca dos frescos; esta mousse é caseirinha?; algures no mundo estão agora pai e filho a comprar um colchão de praia com muitas cores; definitivamente dizemos palavras a mais.
Wednesday, December 04, 2013
Monday, November 18, 2013
Cuidados paliativos.
Viver na Arrábida, para além de tudo o que tem de bom (e é muito), traz alguns evidentes problemas. Desde logo, o facto de não ter acesso ao «Jornal de Letras». Já percorri todos os quiosques, livrarias, pequenas papelarias, cafés com jornais num raio de dezenas de quilómetros. Nada. Ou Lisboa ou nas grandes superfícies, onde ainda existem uns exemplares perdidos todos os 15 dias - normalmente há 2, às vezes só 1. Descobri que se quero ler o jornal tenho de ir ao Fórum Montijo. É saudável, passeia-se, sente-se o bafo da loucura anémica dos Centros Comerciais, mas há aqui qualquer coisa que está inevitavelmente a perder-se. E é o mundo tal qual o conhecíamos.
Hoje, numa das minhas sempre esperançosas e incessantes buscas pelo jornal perdido, em conversa com a dona de uma papelaria e depois de ouvir mais um incrédulo "isso ainda existe?", soube de mais uma extinção: o «O Setubalense», publicação com 158 anos, suspendeu as suas funções em Maio. E assim morrem jornais, sem campa nem nada, terreiro aberto, soltando tiras de papel e tinta contra a tela do céu.
Felizmente, temos ainda a inundar-nos os olhos as «VIP», as «Caras», as «Nova Gente» e tantas outras, todas tão cheias de cores, tragédias e mamas. Podemos ficar sem o conhecimento do mundo, dos artistas ou das regiões, mas que ninguém nunca nos prive de privar de forma tão privada com o privado das cuecas dos famosos.
Wednesday, April 10, 2013
Bichos
Dás-te porque vais numa maré
de afectos e o corpo
aos rodopios
não controla os braços que se estendem
e ganham dimensões de asas
ou as pernas que se submergem na água
até ao fundo do fundo
do mar.
Sem direcção nem países
tanto voas como mergulhas
e encontras-te sempre
furando o céu ou escavando areias
na fronteira da ternura.
O amor
o teu amor
não tem apelido.
de afectos e o corpo
aos rodopios
não controla os braços que se estendem
e ganham dimensões de asas
ou as pernas que se submergem na água
até ao fundo do fundo
do mar.
Sem direcção nem países
tanto voas como mergulhas
e encontras-te sempre
furando o céu ou escavando areias
na fronteira da ternura.
O amor
o teu amor
não tem apelido.
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