Viver na Arrábida, para além de tudo o que tem de bom (e é muito), traz alguns evidentes problemas. Desde logo, o facto de não ter acesso ao «Jornal de Letras». Já percorri todos os quiosques, livrarias, pequenas papelarias, cafés com jornais num raio de dezenas de quilómetros. Nada. Ou Lisboa ou nas grandes superfícies, onde ainda existem uns exemplares perdidos todos os 15 dias - normalmente há 2, às vezes só 1. Descobri que se quero ler o jornal tenho de ir ao Fórum Montijo. É saudável, passeia-se, sente-se o bafo da loucura anémica dos Centros Comerciais, mas há aqui qualquer coisa que está inevitavelmente a perder-se. E é o mundo tal qual o conhecíamos.
Hoje, numa das minhas sempre esperançosas e incessantes buscas pelo jornal perdido, em conversa com a dona de uma papelaria e depois de ouvir mais um incrédulo "isso ainda existe?", soube de mais uma extinção: o «O Setubalense», publicação com 158 anos, suspendeu as suas funções em Maio. E assim morrem jornais, sem campa nem nada, terreiro aberto, soltando tiras de papel e tinta contra a tela do céu.
Felizmente, temos ainda a inundar-nos os olhos as «VIP», as «Caras», as «Nova Gente» e tantas outras, todas tão cheias de cores, tragédias e mamas. Podemos ficar sem o conhecimento do mundo, dos artistas ou das regiões, mas que ninguém nunca nos prive de privar de forma tão privada com o privado das cuecas dos famosos.