Saturday, February 24, 2007

Eu ouvi aquele tipo falar, falar, falar. Durante duas horas ouvi o tipo falar. Dissertou sobre a política nacional, autarquias perdidas por clara ingenuidade diplomática, congressos, discussões, parvoíces, troca-tintas, insultos, depressões, conflitos e muito che guevara para sobremesa, que fica sempre bem.
Quando a conversa acabou, não acabou. Seguiu os seus meandros obscuros, incidiu-se sobre a política internacional, gente com tachos, pequenos latifúndios, grandes latifúndios, pobreza em massa, massa sem pobreza, quejandos que tais e muita, mas muita, eu disse muita, retórica verborreica, que é como quem diz diarreia pela boca. Aos rodos.
A minha barba fez questão de se mostrar desconfortável e eu fingi que compreendia tudo, aceitava tudo, concordava com tudo, e ia fumando cigarros agarrado ao volante, para que alguma coisa me lembrasse que o mundo não era aquilo.
Do outro lado do real, uma música insinuava-se. Começava com uma batida suave, samba em progressão, depois uma guitarra de acordes descoordenados, anjos lambendo as cordas, uma voz quente, feminina, um grito ancestral, e o mundo de repente tão perfeito outra vez, o mundo no seu início. A estrada é o melhor refúgio.

No comments: