Para quem chega de viagem, a vida - tal como ela era - já não existe. A transformação do mundo, enquanto estivemos fora, deu-se a uma velocidade exasperante. Nada está no lugar. As casas, os rios, a cidade vista de cima, continuam os mesmos, mas há um novo acordar: os olhos: a vida: os olhos: os olhos: os olhos. Da visão que tínhamos, sobra um resquício; o resto é novo. Viemos com as pessoas que conhecemos no horizonte e o horizonte alarga-se à nossa frente. Viemos com os lugares onde estivemos e, debaixo de nós, vemos abrir-se um e dez e mil novos poços de água, onde podemos ir para um mergulho nocturno. Da terra que deixámos (e à qual voltamos), a presença apenas de uma fronteira, de uma linha invisível de separação, já orfã dos olhares antigos. Agora, o mar abre-se-nos como se nunca tivessemos sido outra coisa senão caravela. Somos navegar e navegamos. Dentro e fora de nós, navegamos. E viajamos e vagueamos e vagabundeamos. E anoitecemos e amanhecemos e renascemos. Todos os dias. Os países somos nós.
1 comment:
Verdade! A mais pura...
E uma nova realidade nasce: o amanhã! Porque debaixo de uma pedra ou no sopro de uma ventania, nova partida pode sempre aparecer... A melhor... Porque a próxima é sempre a melhor.
À descoberta meu caro... À descoberta!
A calcorrear os passos daqueles que temos no sangue! Porque (pelo menos) metade desta bola redonda já foi nossa.
E vai voltar a ser...
Quando voltarmos a partir...
Amanhã!
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