Tuesday, January 22, 2008

A história de um Rei gordo que, triste, chora num castelo



Quanto a mim, Camacho nunca foi, nem será um bom treinador. Na sua primeira passagem pelo Benfica, não era um bom treinador. O que tinha era humildade e vontade de provar que tinha algum valor, uma vez que todos os lugares que tinha ocupado antes se tinham revelado autênticos fracassos. Chegado ao Benfica, e apoiado por uma grande maioria de adeptos, sentiu motivação e passou-a aos jogadores que conseguiram entender o que o treinador queria e tiveram alguns êxitos. Melhor, um êxito, num jogo em que tivemos sorte. Então... qual a diferença da primeira passagem de Camacho pelo Benfica para esta segunda aventura em terras lusitanas?

Não é muito complicado: Camacho continua o mesmo (mau) treinador. Além das questões que se prendem com o estudo intensivo e sabedoria do jogo (que não mudaram, continuam más), Camacho perdeu aquelas que eram as sua grandes virtudes: a garra, o querer, a disciplina, a liderança, a capacidade de motivação, a união. Porquê, pergunta-se. Haverá, certamente, várias justificações. Deixo aqui a minha:

Quando Camacho chegou ao Benfica era um treinador a perder prestígio. Depois de passagens sem êxito por dois clubes espanhóis e selecção espanhola, Juan Antonio precisava de mostrar serviço. Empenhou-se com unhas e dentes em mostrá-lo ao serviço do Benfica, com abnegação, espírito de luta, garra (afinal, as características que revelou sempre como jogador). Mesmo assim, apesar dessa vontade toda, não conseguia resultados que satisfizessem os adeptos, não fosse dar-se o caso de uma tarde de Maio em que viria a defrontar um FC Porto que - e nunca é demais lembrá-lo - pensava 3 dias à frente desse dia, na final da champions league. Com muita sorte à mistura, lá ganhou a Taça e o povo, sedento de títulos e odiando Mourinho, proclamou aos sete ventos que estava encontrado o novo Rei do Benfica, capaz de lutar até - imagine-se - contra o poderoso Porto de Mourinho, campeão europeu. O Rei, seguindo uma linha de traições digna de qualquer monarquia, deixou o povo nas ruas e lá foi ele para Castela, reinar no clube do coração. O povo chorou, chorou-o, pediu o seu regresso. Afinal, as nossas tão típicas saudade e nostalgia. Mas teve o Rei capacidade para REALmente governar? Não teve. Desculpou-se com o povo, com os nobres e saiu do trono. Terá sido por causa da nobreza, pela boçalidade do povo ou terá sido por o Rei ir (ser) nu? Aceitam-se duelos.

Numa noite de nevoeiro, em que o luso Santos perdia a batalha em terras do Douro, estava o Rei Camacho muito sossegado em mui nobre descanso, quando o povo e seu ícone máximo (Vieira) lusitano clamou por ele. E ele veio. Mas terá vindo humilde e com vontade de governar esta terra com esforço, garra, altruísmo? Pois está claro que não! O Rei veio inchado, afinal já REALmente governara. Enquanto os seus súbditos lhe beijaram os pés, andava o Rei feliz e espirituoso, mas quando o povo se apercebeu das suas incapacidades claras de líder gritaram-lhe à janela do castelo que queriam mais do seu Rei, que queriam ver aquele Rei que os abandonara uns anos atrás. O Rei, muito indignado com tal descrença nas suas capacidades, fechou-se no quarto, cabisbaixo, ausente, numa auto-comiseração sem precedentes, furioso com a vida e com aquele povo que o não entendia. O povo está hoje lá fora, em redor do castelo, a pedir que o Rei volte para terras de Castela e, ele, o Rei espera apenas que adormeçam os súbditos para sair de cavalo desta terra sombria.

2 comments:

Anonymous said...

Para que a alegoria ganhe mais sentido, falta acrescentar que o castelo é de cartas e que o Rei só agora se apercebeu disso.

Anonymous said...

Olha que as cartas não são tão más assim. O problema é que o Rei não sabe jogar...