Sunday, February 03, 2008

Ão Ão

Há quem diga que o Homem nunca esteve na Lua. Não vejo o que isso possa importar. Se nós, admiradores sagrados da transcendência, mesmo que em solo terrestre, nos satisfazemos com a precariedade solene das coisas pequenas, se nos engrandecemos com a mais simples promessa de mar para quê olharmos para o cimo do cimo? Para o alto que está além da distância que vemos? O céu, espécie de manto transparente de todas as coisas, chega-nos.
Há quem diga que o Homem nunca esteve em Terra. Que tudo não passa de uma ilusão mental colectiva, um sonho absurdo e louco de um cão que, entre refeições, decidiu estender as pernas, estender o corpo, estender o cérebro muito além do que o planeta em que vivia imaginava. E imaginou casas, coisas, árvores, gente, pedaços de terra, água, estradas sinuosas, animais, fontes, prazeres, divindades, igrejas, cruzes, sonhos, fadas, ideias, legendas, pensamentos, traduções, conversas, dunas, atalhos, vidros, esmolas, fronteiras, países, ondas, marés, paixões. Não vejo o que isso possa importar. Se respiramos, se representamos na loucura sórdida de um cérebro de um cão, então somos. Sem ponto e vírgula, sem reticências, sem exclamações ou interrogações, então, até sem ponto final somos, imagine-
se

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