Portugal é um país simpático. Minto, Portugal é um lugar simpático. Minto, Portugal é um lugar que faz por parecer simpático, não o sendo. É uma espécie de país e é uma espécie de lugar simpático, mas nem é simpático nem é país. É uma espécie. É quase. Podia ser, podia ter sido mas nunca foi nem é. Esteve quase. Morreu na praia e morreu bem.
Conto-vos uma história de muitas deste género que podiam ser contadas:
Estava eu em Moledo do Minho, no topo do, lá está, quase país, perto de outro, esse sim, um país, quando se decidiu ir visitar um país a sério, Espanha. Apesar da cumplicidade linguística e cultural que todos sabemos existir entre a Galiza e o quase país - mais concretamente, entre a quase região, o Minho -, as diferenças, já o sabíamos, são evidentes. Então a história, muito resumida, é assim:
A fome pedia tapas. Não pedia feijões, cozidos, arrozadas, carne à bruta, guisados ou batatada, pedia uns pratos com coisinhas gostosas para picar. Para ir picando. Obviamente acompanhadas por cerveja, que de outro jeito a vida não vale a pena. O cenário era o mesmo de sempre: um bar-cafetaria com um balcão grande de madeira, muitas mesas, máquinas de jogos e vidros para a rua que os nossos irmãos gostam pouco de sentir o bafio das paredes empurarrem-nos para dentro deles próprios (como no quase país). Ocorre que, além dos bípedes que me acompanhavam, passeava-se, baixinha, uma quadrúpede de barba branca, que infelizmente (ela já o sabe) não pode entrar nos sítios de repasto dos donos - coisas de humanos. Como desde sempre estive habituado a passar temporadas largas entre os irmãos do outro lado do mundo, entrei, disse quantas pessoas eram e perguntei se fazia mal que aquele ser anão ficasse quietinho aos nossos pés. Como é óbvio, pressentindo o galego uma boa maquia entre tapas, cervejas, gelados e tudo o mais que aparecesse à vontade, fez um ar quase escandalizado e disse: "No, nada, el perrito puede venir". É lógico que já se esperava aquela reacção, mas nunca deixo de ficar surpreendido com a forma desprendida como esta gente vive. A vida e as leis obtusas. O "perrito" entrou. Ficou sossegado, enquanto nos atirávamos ferozmente a tortillas, presunto, espargos e croquetas (tudo - já foi dito - regado a cervejinha, claro está). Findo o banquete, estava na hora de fumar. No quase país, estava na hora de ir rapar frio juntamente com dois ou três desconhecidos, que bateriam o dente e falariam, olhando para o chão, como se estivessem na última hora das suas vidas: "é o vício". Não ali. Bebido o último gole de cerveja, levantei-me, fui até ao balcão e perguntei, ainda com aquele medo que temos de uma resposta ríspida do tipo "não há moedas, caralho!", se me podia trocar. Recebi 20 dentes brancos de volta e uma moeda de 10 euros em trocos. Gracías, amigo. Cheguei à máquina e estava pronta a receber moedas. Não, não precisei de pedir a um rancoroso qualquer que me fizesse o favorzinho, se pudesse ser faz favorzinho, que me ligasse a máquina. Pus as moedinhas mas pelos vistos pus moedas a mais. Pois é. O Lucky Strike custava 2.65. "Nós vivemos mesmo bem", pensei eu. Fumados uns cigarros, com mais cerveja à mistura, conversa e bem sentadinho, sem frio, numa cadeira almofadada, lá saímos do bar e do país. Não sem antes parar para encher o depósito do carro. Ah sim, sem chumbo 95 a 1.20. Realmente vivemos como lordes, devia ter pensado, mas não pensei. E lá voltei ao quase país com gasolina galega.
Conto-vos uma história de muitas deste género que podiam ser contadas:
Estava eu em Moledo do Minho, no topo do, lá está, quase país, perto de outro, esse sim, um país, quando se decidiu ir visitar um país a sério, Espanha. Apesar da cumplicidade linguística e cultural que todos sabemos existir entre a Galiza e o quase país - mais concretamente, entre a quase região, o Minho -, as diferenças, já o sabíamos, são evidentes. Então a história, muito resumida, é assim:
A fome pedia tapas. Não pedia feijões, cozidos, arrozadas, carne à bruta, guisados ou batatada, pedia uns pratos com coisinhas gostosas para picar. Para ir picando. Obviamente acompanhadas por cerveja, que de outro jeito a vida não vale a pena. O cenário era o mesmo de sempre: um bar-cafetaria com um balcão grande de madeira, muitas mesas, máquinas de jogos e vidros para a rua que os nossos irmãos gostam pouco de sentir o bafio das paredes empurarrem-nos para dentro deles próprios (como no quase país). Ocorre que, além dos bípedes que me acompanhavam, passeava-se, baixinha, uma quadrúpede de barba branca, que infelizmente (ela já o sabe) não pode entrar nos sítios de repasto dos donos - coisas de humanos. Como desde sempre estive habituado a passar temporadas largas entre os irmãos do outro lado do mundo, entrei, disse quantas pessoas eram e perguntei se fazia mal que aquele ser anão ficasse quietinho aos nossos pés. Como é óbvio, pressentindo o galego uma boa maquia entre tapas, cervejas, gelados e tudo o mais que aparecesse à vontade, fez um ar quase escandalizado e disse: "No, nada, el perrito puede venir". É lógico que já se esperava aquela reacção, mas nunca deixo de ficar surpreendido com a forma desprendida como esta gente vive. A vida e as leis obtusas. O "perrito" entrou. Ficou sossegado, enquanto nos atirávamos ferozmente a tortillas, presunto, espargos e croquetas (tudo - já foi dito - regado a cervejinha, claro está). Findo o banquete, estava na hora de fumar. No quase país, estava na hora de ir rapar frio juntamente com dois ou três desconhecidos, que bateriam o dente e falariam, olhando para o chão, como se estivessem na última hora das suas vidas: "é o vício". Não ali. Bebido o último gole de cerveja, levantei-me, fui até ao balcão e perguntei, ainda com aquele medo que temos de uma resposta ríspida do tipo "não há moedas, caralho!", se me podia trocar. Recebi 20 dentes brancos de volta e uma moeda de 10 euros em trocos. Gracías, amigo. Cheguei à máquina e estava pronta a receber moedas. Não, não precisei de pedir a um rancoroso qualquer que me fizesse o favorzinho, se pudesse ser faz favorzinho, que me ligasse a máquina. Pus as moedinhas mas pelos vistos pus moedas a mais. Pois é. O Lucky Strike custava 2.65. "Nós vivemos mesmo bem", pensei eu. Fumados uns cigarros, com mais cerveja à mistura, conversa e bem sentadinho, sem frio, numa cadeira almofadada, lá saímos do bar e do país. Não sem antes parar para encher o depósito do carro. Ah sim, sem chumbo 95 a 1.20. Realmente vivemos como lordes, devia ter pensado, mas não pensei. E lá voltei ao quase país com gasolina galega.
2 comments:
Há pois é amigo. Um macito de tabaco a 2,65€? Isso é que é tabaco!!! E fumar calmamente num bar depois do dito petisco e da cevejinha nem se fala...espero que tenhas comprado uns de reserva para teres em casa para situações de urgência associadas a uma doença de "preguicite aguda"...
Pois...já concordámos em viva voz, mas fica sempre o amargo de boca! Uma coisa é um gajo ir a um lugar bem diferente e constatar que pura e simplesmente ali o povo e as cabeças funcionam de maneira diferente, mas ir a Espanha, é vermo-nos (portugueses) ao espelho, mas em bom, é engolir em seco e pasmar em como seria fácil ser tão melhor!
Aquele abraço
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