Qualquer dia, um dia destes, um dia qualquer no próximo século, não tem de ser já, hei-de ser porteiro de uma discoteca concorrida de Lisboa. Não é pelo dinheiro, que até acredito que seja interessante, nem é pela possibilidade de dar dois murros bem dados em gente imbecil, é pela questão do poder. Pura e simplesmente, o poder, sim. Não há gente mais poderosa nos dias que correm, tirando os arrumadores, que os porteiros. É poder por todo o lado e mesmo assim – e era aqui que eu seria vanguardista na arte – são todos macambúzios. Ao menos, se fosse eu o porteiro, ria-me de vez em quando, quem sabe não faria mesmo uma mini-actuação circense enquanto os bêbedos esperavam a sua entrada; cuspia fogo, engalfinhava 3 litros de cerveja em 10 minutos, despia-me, fazia o pino, entregava pizzas, cantava o fado, todo um manancial de possíveis diversões que os porteiros andam a desperdiçar com aquele ar sombrio de quem acabou de cagar as twin towers.
Isto, perguntam os leitores, vem a propósito de quê? Vem a propósito, queridos 3 leitores, da noite de quinta-feira, véspera do dia do trabalhador, noite no Cais Sodré, Musicbox, gente por todo o lado e uma fila. Uma fila que ia, de pirilau, desde o túnel até ao outro lado, ao Liverpool. Magotes de bípedes, quase todos entornados, olhando esperançoso para a porta da discoteca. Talvez pensando que um dia, um destes dias, um qualquer dia no próximo século, iriam finalmente poder entrar, beber um copo e dançar. Ideia de tal forma absurda que desde logo foi sendo aniquilada pelos porteiros do dito estabelecimento, enquanto iam abrindo cordinhas para os amigos passarem. E se eram muitos, os amigos! Dava para encher o Estádio da Luz com os amigos que os porteiros iam deixando entrar e talvez sobrassem ainda umas centenas para irem comprar roupas à Zara do outro lado da avenida.
Nisto estávamos, enfiados no pirilau da fila, anónimos sem capas vip nem cocaína para suborno, quando a lógica abstracção da noite ébria me deu a ideia – genial, admito – de ir beber um copo ao bar ao lado do Liverpool e dar tempo ao tempo, que os outros, os que estavam connosco, faziam o obséquio de pirilar. Copos aqui, cigarro acolá, mija nas escadas, tempo para fazer tempo para chegar a tempo de entrar no antro da caixa de música, conversa, isto e aquilo, pede lá mais uma, quanto é?, se calhar vamos ter com os gajos, se calhar já entraram, é chato eles estarem lá e nós aqui, esta está fresquinha, olha os gajos à espera mas esta está a entrar bem, fumamos só mais este e depois vamos. Fomos. Os bípedes tinham conseguido andar dois metros. Ficámos muito felizes e quase agradecemos ao porteiro tão grande gentileza de ter deixado entrar umas 7 pessoas em 40 minutos. Obrigado, porteiro.
Depois de 20 minutos a ter sede, conseguimos entrar. 8 euros para duas imperiais mijadas mas tudo bem, o que vale é que dia do trabalhador. Pista de dança, olhar em volta: o Sam the kid observava sobranceiro os restantes bípedes, Leonor Pinhão bebia o 50º vodka tónico da noite enquanto, no palco, à frente das imagens que pretendem ser alucinantes, João Botelho e uma corja de actores dançavam desenfreadamente levados de mansinho na crista daquele pó que é muito bom para as rinites alérgicas. Olha ali o gajo dos Cool Hipnoise de fato Gucci! E ali, naquele canto, o Rochemback com duas companhias voluptuosas, além da barriga! Viste a Beatriz Batarda? Não vi, não, que estava empenhado em conseguir em simultâneo dançar e segurar a imperial de forma a que não fosse ela a beber-me.
Gastas as rifinhas alcoólicas, mais uns passinhos de dança nos meus 30 centímetros quadrados de espaço, e a melhor ideia da noite: e se a gente bazasse daqui?
O porteiro desejou-me uma boa noite e agradeceu-me. São muito simpáticos os porteiros.
Isto, perguntam os leitores, vem a propósito de quê? Vem a propósito, queridos 3 leitores, da noite de quinta-feira, véspera do dia do trabalhador, noite no Cais Sodré, Musicbox, gente por todo o lado e uma fila. Uma fila que ia, de pirilau, desde o túnel até ao outro lado, ao Liverpool. Magotes de bípedes, quase todos entornados, olhando esperançoso para a porta da discoteca. Talvez pensando que um dia, um destes dias, um qualquer dia no próximo século, iriam finalmente poder entrar, beber um copo e dançar. Ideia de tal forma absurda que desde logo foi sendo aniquilada pelos porteiros do dito estabelecimento, enquanto iam abrindo cordinhas para os amigos passarem. E se eram muitos, os amigos! Dava para encher o Estádio da Luz com os amigos que os porteiros iam deixando entrar e talvez sobrassem ainda umas centenas para irem comprar roupas à Zara do outro lado da avenida.
Nisto estávamos, enfiados no pirilau da fila, anónimos sem capas vip nem cocaína para suborno, quando a lógica abstracção da noite ébria me deu a ideia – genial, admito – de ir beber um copo ao bar ao lado do Liverpool e dar tempo ao tempo, que os outros, os que estavam connosco, faziam o obséquio de pirilar. Copos aqui, cigarro acolá, mija nas escadas, tempo para fazer tempo para chegar a tempo de entrar no antro da caixa de música, conversa, isto e aquilo, pede lá mais uma, quanto é?, se calhar vamos ter com os gajos, se calhar já entraram, é chato eles estarem lá e nós aqui, esta está fresquinha, olha os gajos à espera mas esta está a entrar bem, fumamos só mais este e depois vamos. Fomos. Os bípedes tinham conseguido andar dois metros. Ficámos muito felizes e quase agradecemos ao porteiro tão grande gentileza de ter deixado entrar umas 7 pessoas em 40 minutos. Obrigado, porteiro.
Depois de 20 minutos a ter sede, conseguimos entrar. 8 euros para duas imperiais mijadas mas tudo bem, o que vale é que dia do trabalhador. Pista de dança, olhar em volta: o Sam the kid observava sobranceiro os restantes bípedes, Leonor Pinhão bebia o 50º vodka tónico da noite enquanto, no palco, à frente das imagens que pretendem ser alucinantes, João Botelho e uma corja de actores dançavam desenfreadamente levados de mansinho na crista daquele pó que é muito bom para as rinites alérgicas. Olha ali o gajo dos Cool Hipnoise de fato Gucci! E ali, naquele canto, o Rochemback com duas companhias voluptuosas, além da barriga! Viste a Beatriz Batarda? Não vi, não, que estava empenhado em conseguir em simultâneo dançar e segurar a imperial de forma a que não fosse ela a beber-me.
Gastas as rifinhas alcoólicas, mais uns passinhos de dança nos meus 30 centímetros quadrados de espaço, e a melhor ideia da noite: e se a gente bazasse daqui?
O porteiro desejou-me uma boa noite e agradeceu-me. São muito simpáticos os porteiros.
8 comments:
Muito bom... Um dia vou contar a história que vivi com um amigo nosso, num outro feríado (25 de Abril, devem ter passado agora 2 anos...) à porta do Jamica, ou seja, a escassos centímetros dessa discoteca...
Ok, só conto o fim: negada que fora a entrada, por um desses poderosos seres de que falas, eis que Yankovich, do alto do seu 1,90m nada ameaçador (mesmo nada, a sério, tu sabes que não), mas embuido do espírito libertino que a data permitia, força a entrada no apertado átrio do Jamica e grita, esbracejando: "Pronto já entrei, filhos da puta, hoje é 25 de Abril!" e saí logo de seguida, triunfante, com um sorriso nos lábios, perante o ar estupefacto do estupido porteiro. Fiquei orgulhoso dele! Mas já não bebemos mais nada nessa noite...
Aiii deixa- te disso páaaa ;) a noite nem foi assim tão má!(tirando, realmente, o facto da fila demorar 1ano pra andar, tendo como consequência chegar sóbrio à discoteca , mesmo após ter bebido já, uma razoável dose...realmente...)
Essa noite foi alucinante para todos, estou a ver. Ainda tentei ir ao Plateau, mas um porteiro todo-poderoso (passe o pleonasmo) também andava a vedar entradas...
Ainda não tenho má impressão do Musicbox - a única vez que lá fui estava praticamente vazio. Juro. Agora do Jamaica ou do Tóquio... Isso são outras núpcias!!! E juro sempre que não volto lá e acabo sempre a levitar num espaço de 15 centímetros quadrados (é, lá são só 15) ao som das mesmas 20 músicas: "i'm a loser babyyyyyyy so why don't you kill meeeeee... oooohh iiiii ooooohhh i'm still alive... billie jean is not má lóva... Here i go again on my ooooown... Mariaaaaaaaa you've gotta see her..." E por aí fora, sempre a piorar.
Roger, o que eu queria ter estado presente! O nosso bom gigante a revolucionar-se! :)
Denise,
claro que não foi! Até porque o Musicbox foi um episódio, entre muita outra coisa.
Já quanto a ficares sóbria, não tenho culpa: vais para o mar sem te prevenires em terra... :)
Sim, Marta, no Jamaica é exactamente assim: "levita-se" LOL
A discoteca que frequento mais é mesmo o Jamaica. O Musicbox fui umas 5 vezes e também já apanhei aquilo meio parecido com uma festa de casados.
A música no Jamaica? Bom, remeto para as últimas 5 linhas do teu comentário e está tudo dito. Mas nessa altura da noite, a música é mesmo o que menos importa...
Bem, é que parece que são mesmo só 3 leitores...
Bem sei que 3 é um número fixe, mas, neste post, tiveste 4!
Quanto aos seguranças, bem, não os censuro, o poder é óptimo! Se concordo? Claro que não! Mas que é bom, é.
Tu és o 4º elemento! Mas raramente apareces, como qualquer bom 4º elemento que se preze! :)
Lá isso é.
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