Monday, May 22, 2006

Daniel Filipe (1925-1964) - A Invenção de Amor



A Marta, no seu blogue, lembrou-me esse que é e não é o meu poema preferido (haverá essa coisa do "poema preferido"?). É um dos meus poemas preferidos e, talvez, certas vezes, se estiver a olhar o mar, decida que esse é, de facto, o meu poema preferido. Não interessa. É um poema. Belo.

Como é enorme não o passo aqui, mas facilito a tarefa para os mais preguiçosos: http://www.astormentas.com/danielfilipe.htm

Deliciem-se...

5 comments:

marta cs said...

Boa, Ricardo!!!

Pois, isso de haver um poema preferido é um bocado complicado de se assumir, por isso é que andei para ali a dizer que é, mas não é... Olha, tem dias!

:) e tu foste a primeira pessoa que me disse que o conhecia :)

Se encontrares a curta, avisa!

Tudo de mim. Ou quase. said...

Bem-hajas pela sugestão. Delicioso, de facto. Uma (das muitas que poderia fazer-te):

«Prometo-te a palma da minha mão para a escrita.
Cerca-a de magnólias, cerca-me. Podes fechar a escrita
No interior da mão ou na boca dos livros
Podes esquecê-la ou libertá-la dos mil botões
Que ela sopra no interior dos homens.
Podes mandá-la àqueles que mais amas
Ou como pétalas e mensagens nas anilhas das aves
Aos teus próprios inimigos.
Podes desarmá-la para propagares as chamas.
Dou-te, como desde sempre, o poder
De escreveres na pele da minha mão
As promessas que te fiz. Sabes que existo
E que vou repetir-te todas as coisas outra vez.»

Daniel Faria

Tudo de mim. Ou quase. said...

Não resisti :) (é demasiado complicado escolher apenas um).
Perdoa a invasão de (tanto) espaço.

Quero a Fome de Calar-me

Quero a fome de calar-me. O silêncio. Único
Recado que repito para que me não esqueça. Pedra
Que trago para sentar-me no banquete

A única glória no mundo — ouvir-te. Ver
Quando plantas a vinha, como abres
A fonte, o curso caudaloso
Da vergôntea — a sombra com que jorras do rochedo

Quero o jorro da escrita verdadeira, a dolorosa
Chaga do pastor
Que abriu o redil no próprio corpo e sai
Ao encontro da ovelha separada. Cerco

Os sentidos que dispersam o rebanho. Estendo as direcções, estudo-lhes
A flor — várias árvores cortadas
Continuam a altear os pássaros. Os caminhos
Seguem a linha do canivete nos troncos

As mãos acima da cabeça adornam
As águas nocturnas — pequenos
Nenúfares celestes. As estrelas como as pinhas fechadas

Caem — quero fechar-me e cair. O silêncio
Alveolar expira — e eu
Estendo-as sobre a mesa da aliança

Daniel Faria, in "Dos Líquidos"

Tudo de mim. Ou quase. said...

Prefiro as coisas sem sentido, ou não dar sentido às coisas. Quanto ao abraço, pois que venham daí esses ossos. Raio, sadismo da minha parte. O Daniel Faria manda outro.

Anonymous said...

intiresno muito, obrigado