Tuesday, April 08, 2008

Uma tal de besta

Se há coisa que me põe capaz de saltar para a frente de um carro é a estupidez de um bom jogador. Então quando é a estupidez de um jogador assim-assim, fico capaz de meter a cabeça no forno. Vem isto a propósito de umas declarações a dar para o imbecil de um tal de Nélson, que - parece - joga na lateral direita da equipa do Benfica. Um tipo que foi contratado estava eu e uns amigos a beber copos às tantas da manhã. Alguém leu e telefonou, mandou mensagem? Já não me lembro. Alguém apareceu com a boa nova: "O Nélson é nosso!", disse alguém. Entreolhámo-nos, benfiquistas à volta de uma mesa com uma espiral de copos vazios de cerveja (talvez gin-tonic e whisky também por lá andassem), e fizemos a pergunta que, obviamente, se impunha: "Mas quem é esse gajo?". Era um gajo do Boavista. Esse tal de Nélson jogou o primeiro jogo e logo vimos nele o próximo Cafu, melhor, o Cafu com pé esquerdo. Aquilo era cruzamentos de esquerda, direita, nem sei se o homem não chegou a cruzar de cabeça. Todos de uma qualidade que dava para um gajo perguntar se estava a ver o Benfica ou o Milan. O homem fez um jogo em Villarreal tão bom tão bom que dava a sensação de que a conta bancária desse ano iria aumentar aí nuns 50 milhões de euros, no final da época. Na época seguinte, apareceu nos treinos do Seixal outro gajo: um tal de Nélson. Um gajo mais ou menos rápido, péssimo a defender, HORRÍVEL a cruzar e, acima de tudo, tinha uma qualidade excepcional: quando chegava ao meio-campo decidia adiantar a bola e começar a correr atrás dela. Geralmente ia cruzá-la 20 metros depois dos placards publicitários, ali entre o último centímetro de relvado do Estádio da Luz e a primeira cadeira vermelha onde, estranhamente, nunca estava ninguém sentado. Passou este tal de Nélson uma época inteira a tratar mal a bola e a reclamar com os colegas. Chegado o Verão, o desespero era tanto que para substituir esta aventesma, o Benfica foi buscar uma aventesma pior (mas que se julgava ser um bocadinho melhor), um tal de Luís Filipe. O outro, o Nélson, parecia estar tão deprimido que o "Record" chegou a noticiar (não se sabe se uma notícia fidedigna) que Chalana lhe apresentou um belíssimo Psicólogo, conhecido por recuperar cabeças de perdiz e cérebros de milhafre. Também tinha um bom currículo na arte de recuperar capacidades "cruzamentais" nos jogadores. Não se sabe se Nélson aceitou o repto, mas a verdade é que Luís Filipe saiu da equipa (diz-se que também começou, a partir daí, a frequentar as mesmas sessões) e lá começou o tal de Nélson a jogar. Assim-assim. Nem bom nem mau, estão a ver? Bem pelo contrário. Ora, estávamos nisto, neste assim-assim, uns dias sim, outros não, quando o tal de Nélson vem a público dizer isto: "Sou ambicioso e o desafio [jogar no estrangeiro] seria enorme. Mas sinto-me preparado, pois não tenho medo de jogar numa grande Liga da Europa". Mas isto agora é assim, é? Já não é só com os gajos bons (não digo muito bons, porque carne dessa os nossos dentes não sentem há muito tempo) que nos temos de preocupar? Agora até os assim-assim abandonam-nos por dá cá aquela palha? Eh pá metam-me lá. Eu levo uns amigos. Raios me partam se a gente quer "desafios" ou jogar em "Ligas da Europa". Não prometo resultados. Mas raios me partam todo aqui e agora se a gente queria sair do Benfica!

5 comments:

Anonymous said...

Tenho estado atento aos seus comentários em blogues de futebol, e invejo-lhe e admiro-lhe a capacidade analítica que demonstra sobre o jogo, desprovida de cegueira e fundamentalismos primários, o que é ainda mais de valorizar num futebol português consumido pelo ódio e pela guerrilha constante (e o "meu" presidente tem muita culpa nisso). De um portista atento.

Tiago Ribeiro

Ricardo said...

Tiago,

Obrigado pelas palavras elogiosas. Pelo que vejo do seu comentário, a análise "desprovida de cegueira e fundamentalismos primários" é uma regra para si também.

Volte sempre a esta tasca.

" R y k @ r d o " said...

Bom artigo.

Revejo-me nele.

Anonymous said...

Muito bem observado, não teria dito melhor. Estamos condenados a ser abandonados por jogadores que há alguns anos nem sequer tinham lugar no clube.

Tiagojcs said...

Excelente texto , como é habito encontrar-se por aqui .
Esse e muitos outros pseudo jogadores que são pagos a peso de ouro pelo glorioso têm o ego tão grande como os seus ordenados e a sua fraca qualidade técnica .

Voltarei , caso me seja permitido , a opinar neste excelente espaço .

Saudações