O atentado inqualificável por parte de uma nova elite moralista, que emerge por todos os lados do globo, chegou a Portugal. Afinal não estamos na cauda do mundo. E se fazemos leis contra os fumadores, que as façamos ainda mais rígidas, discriminatórias e hipócritas!
João Pereira Coutinho disse e bem:
«Em 1959, o filósofo Isaiah Berlin publicou um ensaio que se transformou em peça clássica do pensamento político. Intitula-se ‘Two Concepts of Liberty’ e, para resumir uma longa conversa, Berlin escrevia que, historicamente falando, é possível divisar dois conceitos de liberdade que, semelhantes na aparência, acabaram por evoluir em sentido contrário. De um lado, o conceito de liberdade ‘negativa’, caro aos liberais clássicos (como Stuart Mill), e que procura definir o espaço onde eu posso agir sem a coacção de terceiros.
Do outro, o conceito de liberdade ‘positiva’, onde a preocupação já não está no espaço do agente, mas na acção do agente: uma acção considerada livre se for racional. Berlin explica como o segundo conceito, estimável na teoria, acabou por ser usado e abusado por ditadores de toda a espécie, que em nome da liberdade ‘real’ se propuseram a ‘libertar’ os seres humanos rumo ao caminho da autonomia e do bem. Mas não é preciso citar casos extremos: as versões de paternalismo «soft», que a Europa importou com vigor, são o melhor exemplo deste vírus. A liberdade, na cabeça do nosso escol político, não significa agir sem coacção. Significa agir com a voz do dono.
Um dos exemplos mais explícitos do abuso está, naturalmente, no combate ao tabaco. Claro que o combate ao tabaco seria impensável sem o declínio das teologias tradicionais: se Deus não existe, o corpo é tudo o que nos resta. Não é por acaso que Lisboa se prepara para receber uma exposição macabra, feita com cadáveres chineses, onde é possível admirar (com nojo) os efeitos do fumo no organismo. E não é por acaso que a Alemanha nazi — um regime totalitário e ateu — se notabilizou nas campanhas antitabágicas, que sobreviveram ao Reich e são hoje repetidas por papagaios sem vergonha. Mas o combate aos fumadores, e as medidas iliberais que o Parlamento aprovou sem um espirro de hesitação, é também a forma mais velha de negar aos seres humanos o que é autenticamente deles: a possibilidade de viverem por sua conta e risco, assumindo as rédeas da sua própria mortalidade.»
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Subscrevo!
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