Wednesday, July 12, 2006

Do livro "El otro Sueño", 1987

A MAL CASADA (1987)

Dizes-me que Juan Luis não te compreende,
que só pensa nos seus computadores
e que não faz caso de ti de noite.
Dizes-me que os teus filhos não te ajudam,
que só te dão problemas, que se aborrecem
com tudo e que estás farta de aturá-los.
Dizes-me que os teus pais estão velhos
que se tornaram tacanhos e egoístas
e que já não és a sua menina como dantes.
Dizes-me que já fizeste trinta e cinco
e que não é fácil começar de novo,
que os únicos homens que conheces

são os colegas de Juan na IBM
e não gostas de executivos.
E eu, o que é que eu faço nesta história?
Que queres que eu faça? Que mate alguém?
Que dê um golpe de estado libertário?
Amei-te como um louco. Não o nego
mas isso foi há muito, quando o mundo
era uma reluzente madrugada
que não quiseste compartilhar comigo.
A nostalgia é um passatempo grosseiro.
Volta a ser a que foste. Vai ao ginásio,
Pinta-te mais, disfarça as tuas rugas
e veste roupa sexy, não sejas tonta,
que talvez Juan Luis te volte a mimar,
e os teus filhos vão para um acampamento
e os teus pais morram.

Luis Alberto de Cuenca

3 comments:

marta cs said...

Que visão tão... tão... terra-a-terra (?) da coisa. Bolas, ainda estou atordoada.

Ricardo said...

É exactamente por isso que gosto deste poema. Vem na sequência do Closer. "Ah deixaste-me com o coração nas mãos e agora queixas-te? Olha, vai morrer longe!". Me gusta...

marta cs said...

Olha, devia mesmo ser esse o espírito!!! Eheheh!