A MAL CASADA (1987)
Dizes-me que Juan Luis não te compreende,
que só pensa nos seus computadores
e que não faz caso de ti de noite.
Dizes-me que os teus filhos não te ajudam,
que só te dão problemas, que se aborrecem
com tudo e que estás farta de aturá-los.
Dizes-me que os teus pais estão velhos
que se tornaram tacanhos e egoístas
e que já não és a sua menina como dantes.
Dizes-me que já fizeste trinta e cinco
e que não é fácil começar de novo,
que os únicos homens que conhecessão os colegas de Juan na IBM
e não gostas de executivos.
E eu, o que é que eu faço nesta história?
Que queres que eu faça? Que mate alguém?
Que dê um golpe de estado libertário?
Amei-te como um louco. Não o nego
mas isso foi há muito, quando o mundo
era uma reluzente madrugada
que não quiseste compartilhar comigo.
A nostalgia é um passatempo grosseiro.
Volta a ser a que foste. Vai ao ginásio,
Pinta-te mais, disfarça as tuas rugas
e veste roupa sexy, não sejas tonta,
que talvez Juan Luis te volte a mimar,
e os teus filhos vão para um acampamento
e os teus pais morram.
Luis Alberto de Cuenca
Wednesday, July 12, 2006
Do livro "El otro Sueño", 1987
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3 comments:
Que visão tão... tão... terra-a-terra (?) da coisa. Bolas, ainda estou atordoada.
É exactamente por isso que gosto deste poema. Vem na sequência do Closer. "Ah deixaste-me com o coração nas mãos e agora queixas-te? Olha, vai morrer longe!". Me gusta...
Olha, devia mesmo ser esse o espírito!!! Eheheh!
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