Um filme onde nada é o que parece. A começar pelo elenco. Lemos os nomes dos actores e ficamos com aquele amargo de boca, aquela sensação de estarmos perante mais um cansativo jogo de namorados, clichés e beijinhos no final com o plano a afastar-se. Não podíamos estar mais enganados. O filme “Closer” de Mike Nichols é tudo menos um filme de Domingo à tarde para repousar o cérebro. De tanto nos “ofender” no nosso suposto belo romantismo, chegamos ao final destroçados, cansados e – ironicamente – repletos de uma sensação de reconforto. É no jogo entre o desvario das emoções e a crueza das soluções que todo o filme se sustenta. Aquele que domina afinal é o dominado. O que ama afinal não ama. O amor, esse, serve de cobaia para uma coisa maior – a realidade; e esse facto (o amor não reinar, antes servir) é uma revelação e uma balde de água fria nesta nossa mania de sermos muito leais, muito fiéis, muito romântico-patéticos. Julia Roberts faz o melhor dos papéis. Nem parece a mesma. Afinal, Julia pode ser chamada de actriz. Natalie Portman, para além da beleza cinematográfica mais fascinante dos últimos tempos, é belíssima. Actriz, actriz, actriz. Um portento de representação. Jude Law, o mais fraco; ainda assim, capaz de transportar as emoções e cruezas da personagem. Clive Owen deslumbrante. Em todos os sentidos. Quem quiser ver o filme, que veja. Não vou fazer sinopses nem resumos alargados. O filme merece ser visto por quem se quer desiludir da desilusão. |
Tuesday, July 11, 2006
Closer, 2004, Mike Nichols
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11 comments:
Boa, tenho de ver :)
Vê. Uma grande surpresa e um murro no estômago para os que como eu não deram crédito quando saiu porque tinha os actores que tem. É bom sermos surpreendidos. muito bom, mesmo...
E onde é que isso se arranja? No clube de vídeo?
Sim, é de 2004. Já deve estar há algum tempo em DVD. Aquele vídeoclube na rua que vai dar ao Década costuma ter esses filmes. Give it a try...
Ok. O meu clube de vídeo tb é porreiro, vou lá ver!
Merci :)
Ah pois é! Tu lá bem perto tens um à maneira. Grande, n é? Pronto, então está resolvido. Depois conta-me coisas...
E o Evando? Sempre vamos ter com ele? :)
Vamos, vamos! Deixa-me só juntar umas massas...
Bem, estive agora mesmo a ver o filme e a sensação de reconforto não é nenhuma, Ricardo! Enganaste-me! Só se for no sentido em que, assim, sei que é tudo normal e que faz tudo parte dessa coisa que é a realidade. Não é notícia, o homem não morde o cão, está tudo conforme os parâmetros. Mas isso, sinceramente, não me traz reconforto nenhum... Bolas, acho que preferia não ter pensado nisto tudo, preferia a desilusão por si só, este filme é demasiado bom. Na sua simplicidade.
;) gostei mesmo! E o The Blower's Daughter assenta-lhe como uma luva.
Reconforto no sentido de identificarmos o mundo como injusto. Podermos, por um momento, apagar o foco sobre nós e iluminarmos o mundo para compreender que, afinal, a nossa pequena "tragédia" faz ou pode fazer parte de uma coisa maior: a própria crueldade do mundo e das pessoas. Reconfortou-me por isso: por, depois de ver o filme, achar que eu se calhar é que estava enganado. O mundo é isto. As pessoas são isto. Resigno-me e pronto.
Se fico reconfortado com a falta de romantismo, com o facto de o Amor ser um brinquedo nas mãos das pessoas? Não. Não fico. Detesto. Queria que fosse diferente, mas já consigo aceitar de outra forma a crueldade. Foi uma lição, talvez. Repara que nao deixo de falar em "cansados" e "destroçados".
Estou a ouvir a música. "Can´t take my eyes of you". Adoro a ironia, o dramatismo.
E no final podemos sempre optar por continuarmos iludidos... :)
Pois, foi isso que percebi do reconforto. Nada de novo, nós não somos especiais.
Eu prefiro continuar a iludir-me, mesmo assim.
Também já a ouvi sem parar... Baci
Mil anos depois, ninguém vai ler esse comentário, mas vá lá: tirei a noite pra ficar viajando por blogs, o seu me atraiu aos poucos, numa segunda olhada. Como você comentou "closer", me senti obrigada a dizer que gosto muito desse filme, é, sim, um soco no estômago. Ele tem estado muito presente na minha vida, não é muito boa a ironia que faz a Julia encontrar o Clive?! Dá um pouco de medo, coloca em evidência que tudo que fazemos tem consequências e que nossa visão do mundo é muito limitada.
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