«Nada. Ninguém pode impedir que seja assim. Um dia, serei velho, terei uma colecção de queixas físicas, maiores e menores, e lerei o meu nome na capa de antologias, ao lado de nomes que, hoje, toda a gente desconhece. Terei cabelos brancos, já tenho, e pouco interessa imaginar se serão as costas a cansar-se primeiro, se será o estômago que quererá desistir; interessa apenas a esperança de, ainda nessa altura, querer ser velho, mais velho, e ter a sabedoria imensa de recusar ser antigo. Interessa saber olhar para esses nomes futuros e ser capaz de lê-los, que é o mesmo do que dizer: ser capaz de procurar no seu interior. Eles não precisarão de mim para nada, mas eu dependerei deles para tudo, para continuar vivo.
Hoje, alguns desses escritores estão na pré-primária que há no outro lado da rua onde vivo. Cruzo-me com eles muitas vezes. Têm chapéus amarelos, presos com elásticos por baixo do queixo, e atravessam na passadeira, de mãos dadas, em filas de dois, quando a educadora de infância decide levá-los a passear. Hoje, muitos desses escritores ainda não nasceram. Neste momento preciso, há namorados a imaginarem nomes para os filhos que não sabem se vão ter: se for menino, se for menina. É mais difícil encontrar nomes para rapazes, dizem. (…)»
- José Luís Peixoto (Jornal de Letras)
«Há muitas coisas que percebo que não sou, mas dizer exactamente o que sou não consigo. Tento, dia a dia, ganhar o título de ser uma pessoa. E já não é pouco.»
- José Luís Peixoto (Notícias Magazine)
«Penso que o amor é muito difícil. Existem muitos obstáculos a que possa ser o absoluto que é. A palavra amor é uma palavra muito gasta, muito usada, e muitas vezes mal usada, e eu quando falo de amor faço-o no sentido absoluto... há uma série de outros sentimentos aos quais também se chama amor e que não o são. No amor é preciso que duas pessoas sejam uma e isso não é fácil de encontrar. E, uma vez encontrado, não é fácil de fazer permanecer.»
- José Luís Peixoto (Notícias Magazine)
9 comments:
É mais difícl arranjar nomes para rapazes, sem dúvida. E o meu irmão tem um chapéu amarelo preso com um aelástico debaixo do queixo.
É mais fácil chegar lá por exclusão de partes, mesmo quando não se chega verdadeiramente a lado nenhum.
Fazer permanecer o amor não é fácil. Mas possível, valha-nos isso! Safa, estava a ver que a ilusão ia já por água abaixo...
:)
Eh pá o mundo afinal não está perdido! Há uma luzinha!!! Não é fácil, mas possível, lá está...
Façamos, então, para "ganhar o título de ser uma pessoa". Pode ser que, pelo caminho, encontremos e façamos permanecer o amor...
Errata:
*por em vez de para...
É isso!!! Mas olha que fácil não é... Já lá vão uns aninhos e ainda não percebi o que ando a fazer mal, bolas.
:)
Há coisas que dão algum sentido a isto tudo. Uma delas é a poesia. Encontrei esta pérola no Jornal de Letras de um poeta injustamente (quase) esquecido:
Era o amor
que chegava e partia.
Estarmos os dois
era um calor, que arrefecia
sem antes nem depois.
Era um segredo
sem ninguém para ouvir
eram enganos e era um medo
amorte a rir
dos nossos verdes anos.
Foi o tempo que secou
a flor que ainda não era
como o Outono chegou
no lugar da Primavera.
No nosso sangue corria
um vento de sermos sós
nascia a noite e era dia
e o dia acabava em nós.
Pedro Tamen
Eu conheço o Pedro Tamen!!! Ele é genial. Espera, tenho de ver se me lembro de uns versos dele que dantes eu adorava...
Infelizmente não me lembro nem vou encontrar o que queria sem mais nem menos. Mas, mais uma vez, a surpresa. Primeiro o Daniel Filipe, agora o Pedro Tamen. Então, é assim... Muito bem :)
(vou para casa e para mim hoje é sexta-feira!)
Até quando a surpresa?
Não... definitivamente tu já não és sub-21 (esperanças), fazes parte dos AA (equipa sénior). És a mais-valia da equipa. Um Figo pronto a colher... LOL
Mas é lógico que a surpresa é óptima, são sempre necessárias as jogadas de génio - as imponderáveis...
Até quando? Bem, espero que continuamente, que isto sem surpresas não tem piada nenhuma. Mas das boas, sff...
LOL! A analogia com futebol foi gira, até eu consegui apanhá-la! Vá lá...
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