«Nada. Ninguém pode impedir que seja assim. Um dia, serei velho, terei uma colecção de queixas físicas, maiores e menores, e lerei o meu nome na capa de antologias, ao lado de nomes que, hoje, toda a gente desconhece. Terei cabelos brancos, já tenho, e pouco interessa imaginar se serão as costas a cansar-se primeiro, se será o estômago que quererá desistir; interessa apenas a esperança de, ainda nessa altura, querer ser velho, mais velho, e ter a sabedoria imensa de recusar ser antigo. Interessa saber olhar para esses nomes futuros e ser capaz de lê-los, que é o mesmo do que dizer: ser capaz de procurar no seu interior. Eles não precisarão de mim para nada, mas eu dependerei deles para tudo, para continuar vivo.
Hoje, alguns desses escritores estão na pré-primária que há no outro lado da rua onde vivo. Cruzo-me com eles muitas vezes. Têm chapéus amarelos, presos com elásticos por baixo do queixo, e atravessam na passadeira, de mãos dadas, em filas de dois, quando a educadora de infância decide levá-los a passear. Hoje, muitos desses escritores ainda não nasceram. Neste momento preciso, há namorados a imaginarem nomes para os filhos que não sabem se vão ter: se for menino, se for menina. É mais difícil encontrar nomes para rapazes, dizem. (…)»
- José Luís Peixoto (Jornal de Letras)
«Há muitas coisas que percebo que não sou, mas dizer exactamente o que sou não consigo. Tento, dia a dia, ganhar o título de ser uma pessoa. E já não é pouco.»
- José Luís Peixoto (Notícias Magazine)
«Penso que o amor é muito difícil. Existem muitos obstáculos a que possa ser o absoluto que é. A palavra amor é uma palavra muito gasta, muito usada, e muitas vezes mal usada, e eu quando falo de amor faço-o no sentido absoluto... há uma série de outros sentimentos aos quais também se chama amor e que não o são. No amor é preciso que duas pessoas sejam uma e isso não é fácil de encontrar. E, uma vez encontrado, não é fácil de fazer permanecer.»
- José Luís Peixoto (Notícias Magazine)